Gilberto Gil revelado em cada movimento do Corpo

Paulo Henrique Silva
31/07/2019 às 08:54.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:47
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Gilberto Gil mandou um recado para o coreógrafo Rodrigo Pederneiras, após aceitar compor a trilha sonora do novo espetáculo do grupo mineiro de dança Corpo, um dos mais importantes do mundo. “Vou lhe dar trabalho!”, vaticinou o compositor de importantes músicas da MPB, como “Realce”, “Drão” e “Aquele Abraço”.

Meses depois, a poucos dias de “Gil” estrear em palcos paulistas (em Belo Horizonte, a apresentará acontecerá de 27 de agosto a 1º de setembro), Rodrigo não tem dúvidas: “Ele realmente me deu trabalho”, diverte-se o coreógrafo, após uma prévia do espetáculo para a imprensa, ontem, na sede do grupo, em Belo Horizonte.

“Apanhei desta trilha e refiz dezenas de vezes certas cenas. Era uma música completamente abstrata. Não tinha muitas pegas”, assume Rodrigo. 

O diretor artístico Paulo Pederneiras reforça a avaliação do irmão: “Quando a obra chegou, era tão forte que ficamos com um certo medo desta empreitada”, admite.

Rodrigo explica que buscou seguir um pouco o caminho de “Gira”, espetáculo anterior do Corpo. “Neste, cheguei a frequentar terreiros de umbanda. Como Gil tem um posto na hierarquia do candomblé, como filho de Xangô, fui atrás disso, aproveitando esta chamada do candomblé. Foi o que me deu chão”, registra.

A diferença, segundo ele, é que, em “Gira”, a religião era o tema central. “Aqui não. É Gil. O que é Gil? Ele é um personagem na cultura brasileira. É Bossa Nova, rock’n’roll, Eric Satie, jazz, música afro, música baiana. Gil é tudo. E a trilha tem o Gil por quem a gente é apaixonado e outro completamente novo. Essa mistura deu uma força grande”.

Na mira

Paulo Pederneiras sublinha que Gil sempre esteve “na mira” do grupo, que já teve como parceiros musicais Caetano Veloso, José Miguel Wisnik e Lenine. “Ele ficou muito feliz com o convite. Apesar de não ter tanto conhecimento do trabalho do Corpo, sabia da qualidade da companhia e viu que era uma experiência muito importante”, lembra.

Já neste primeiro contato, Paulo teve a ideia de dar o nome do espetáculo de “Gil”, como reverência à carreira do compositor. “Ele ficou, de certa forma tocado, e viu ali um norte, com a possibilidade de revisitar a sua obra”, afirma. O compositor, por sinal, teve total liberdade para criar, com a coreografia, deixando-se influenciar pelas músicas. 

“Isso é normal no Corpo. A gente prefere receber toda a bagagem musical e emocional e a maneira de pensar (daquele artista)”, salienta Paulo, para quem Gil mostrou-se muito aberto durante o processo. “Pela música que vocês acabaram de ouvir, percebe-se uma entrega muito grande. Foi um relacionamento muito gostoso”, elogia.

Gil dividiu a trilha de 40 minutos em quatro partes diferentes. A que chama mais a atenção são as referências que faz à própria obra musical, o que, segundo Rodrigo, ajudou muito na criação da coreografias, com os bailarinos, ao reconhecerem isso na trilha, oferecendo farto material.

Iluminação foi um dos grandes desafios da montagem do espetáculo

O cenário de “Gil” será minimalista, exibindo um grande tapete amarelo, de 20 metros de altura, por 12 metros de largura, que desce da urdidura até a boca de cena, num fundo infinito. A cor, segundo Paulo, é uma reverência a Gilberto Gil. “Ela é luminosa e tem tudo a ver, pelo menos, com o meu sentimento em relação à obra do Gil”.

A iluminação se transformou num grande desafio. “Pensei em fazer uma luz só com moving light, usada em shows, por estar relacionado com Gil. Só que, nos shows, como a banda fica parada, é a luz quem movimenta. Ele é quase um cenário. Aqui, no caso, já tem movimento suficiente, com as pessoas que estão dançando no palco. Então minha proposta foi que a luz dançasse junto”, relata.

Sem parar

Ele destaca que essa escolha representou uma opção completamente nova, o que acabou lhe trazendo algumas dores de cabeça. “Surgiram alguns problemas técnicos, a partir do fato de a luz não parar um minuto sequer. Cada segundo de uma cena tem uma luz própria. Ela nunca descansa, estando o tempo inteiro com os bailarinos”.

No dia anterior, ele permaneceu mais de dez horas com a equipe para gravar a luz de sete minutos do espetáculo. 

“É uma coisa muito artesanal. E falo com este entusiasmo porque realmente foi o primeiro dia em que deu certo. Antes disso, eu estava muito apavorado”, confessa.

Os figurinos foram criados por Freusa Zechmeister, parceira em vários espetáculos. Ela preparou malhas inteiriças com bases negras onde estão aplicadas estampas coloridas, como flores, listras, triângulos e grafismos, inspirados no trabalho da artista plástica Joana Lira. 


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