Grande Sertão inspira segundo álbum solo do compositor e violonista Makely Ka

Hoje em Dia*
26/07/2014 às 07:47.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:31
 (Maken Oliveira/Divulgação)

(Maken Oliveira/Divulgação)

Em “Grande Sertão: Veredas”, o ex-jagunço Riobaldo Tatarana revive seus medos, amores e dúvidas em um trajeto de descobertas e autoconhecimento tão labiríntico quanto o sertão que corre pelo norte de Minas, o sul da Bahia e o nordeste de Goiás. O livro de João Guimarães Rosa (1908– 1967) serviu como inspiração para “Cavalo Motor”, segundo álbum solo do compositor e violonista Makely Ka. Lançado recentemente, o álbum integra um projeto que abarca, ainda, exposição fotográfica, documentário, livro, palestras e site interativo.   Entre julho e setembro de 2012, Makely Ka tomou como base o trajeto de Riobaldo e percorreu 1.680 km do sertão mineiro. Registrou as paisagens por meio de gravação de áudio e vídeo. Passou ao todo por 39 localidades, onde o cerrado e a caatinga se formaram como elementos do projeto.   Em uma experiência de homem-máquina, ou “cavalo motor”, todo o trajeto, solitário, foi feito com uma bicicleta adaptada que gerava energia para que Makely tivesse bateria para o laptop, câmera fotográfica, gravador e celular. “Não queria depender de energia elétrica, já que em alguns lugares eu não poderia contar com ela. Com a bicicleta pude aproveitar melhor a viagem e observar essa relação entre os donos da terra e jagunços, trabalhadores e vaqueiros”, comenta.     Seguindo os passos de Riobaldo   Nascido no Piauí e criado em Minas Gerais, Makely Ka se valeu da expedição não só como uma experiência geográfica, mas também introspectiva. “Estava buscando a identidade da minha música, uma referência que tinha a ver com esse deslocamento de identidade que, ao mesmo tempo que incomoda, é instigante”, explica o compositor.   As 15 músicas do disco refletem a musicalidade contemporânea do artista. Não se trata de um álbum temático, embora os elementos do sertão permeiem todo o disco. “Não queria fazer um disco regional, não é uma releitura do ‘Grande Sertão: Veredas’. Usei as referências de forma subliminar, no som ambiente por exemplo, o trabalho de uma benzedeira, o canto de um grilo, uma cigarra.”, explica.   Makely também aponta os poetas Walt Whitman, Konstantínos Kaváfise e o escritor James Joyce como referências para esse trabalho. “Whitman está presente em algumas faixas de forma velada. Ele teve essa coisa de desbravador, dos contatos da estrada aberta. O Konstantínos conseguiu traduzir questões filosóficas gregas antigas para um momento atual e Joyce tem essa ideia simbólica de viagem, como se fosse algo interno. Foram referências que me ajudaram a estabelecer relações com o ambiente e dar um outro significado”, afirma.   Como não levou instrumentos para a expedição, Makely contou com a hospitalidade dos moradores por onde passava para começar, no violão, o arranjo de alguma ideia que teve na estrada.    Na gravação do disco as parcerias foram surgindo. Com exceção de “Baião para Gershiwin”, que também tem assinatura de Benji Kaplan, todas as letras foram feitas por Makely. Da vanguarda paulistana, Suzana Salles empresta sua voz para “Itinerário Tatarana”, que também tem participação do grupo O Grivo.    Arto Lindsay assume a guitarra em “Carrasco” e “Cavalo Motor”, e o grego Kostas Skoulas toca lira cretense em “Ijexá dos Meninos”. Cataventoré, Décio Ramos, Dimitris Vasmaris, Maísa Moura e Sérgio Pererê completam o time de participantes especiais de “Cavalo Motor”, que demorou três anos para ser finalizado.   Histórias do avô   Após a expedição do roteiro de Riobaldo, Makely está agora em Aroazes, no interior do Piauí. Seu plano era, nos moldes da viagem ao sertão de Minas, pedalar do sul do estado até a foz do Parnaíba e, com o relato sonoro e visual, produzir mais material para um próximo trabalho. Viajou 2 mil km mas parou na casa do avô onde, na varanda da casa, ouve histórias de quem tem muito a contar.    Após ler “Grande Sertão: Veredas” duas vezes, uma com 17 anos e outra mais recentemente, para fazer o roteiro da viagem, Makely imagina que, se ouvir a história de Riobaldo e Diadorim outra vez, terá outro livro em mãos – agora não mais com uma ideia literária em mente, mas sim com uma paisagem real e ainda mais intensa.   *Colaborou Danilo Viegas/Especial para o Hoje em Dia

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por