'Green Book' acompanha viagem transformadora para músico e seu motorista

Paulo Henrique Silva
03/02/2019 às 07:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:21
 (DIAMOND/DIVULGAÇÃO)

(DIAMOND/DIVULGAÇÃO)

Já escreveram que “Green Book: O Guia”, em cartaz nos cinemas, seria o novo “Conduzindo Miss Daisy” (1989), com a inversão dos papéis do motorista negro e do patrão branco. Os artifícios do roteiro, porém, nos leva a “Intocáveis”, produção francesa de grande sucesso em 2011.

A estrutura narrativa caminha de forma semelhante, numa sobreposição de compensações, beirando muitas vezes à moral dos contos de fada, a partir de um embate que põe, de um lado, um homem branco pobre e pouco inteligente e, do outro, um genial pianista negro.

A viagem de carro que reúne duas figuras aparentemente tão díspares já evoca um clichê cinematográfico, em torno da jornada de transformação. Don Shirley (Mahershala Ali) é rico em dinheiro e conhecimento, mas, solitário, não tem com quem compartilhar, além de carregar vários conflitos interiores.

Tony (Viggo Mortensen), por sua vez, é pobre de recursos financeiros e intelectuais, mas tem autoconfiança de sobra e família tradicional que o ama. Tanto ele como Shirley ocupam o mesmo tempo de presença na tela, mas, como o Oscar mesmo apontou, o protagonista é Tony.

Autenticidade

A lógica é simples: Tony tem mais a ensinar a Shirley. Embora seja um brutamonte preconceituoso, o seu mundo é autêntico, dentro de uma concepção “trumpiana”. Diferentemente do personagem de Omar Sy em “Intocáveis”, ele não pensa no futuro e faz o que gosta, como comer porcaria à vontade, falar errado e ser ecologicamente incorreto.

O problema de “Green Book” está na maneira como louva esse homem rude e conservador, o que nos remete a outros trabalhos do diretor Peter Farrelly, que assinou “Debi & Loide – Dois Idiotas em Apuros”, “Quem Vai Ficar com Mary?” e “O Amor é Cego”.

No lugar de comédias escrachadas, surge um drama com um humor mais refinado, mas que igualmente valoriza a essência pura, sem censuras culturais e ideológicas. Neste sentido, Shirley aparece, em algumas cenas, como um censor esnobe e artista doutrinário. Escolha que, nos tempos atuais, acaba sendo perigosa.

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