Grupo Galpão produz filme sobre a dificuldade de fazer teatro em ambientes virtuais

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
17/09/2020 às 23:22.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:34
 (fotos andré baumecker/divulgação)

(fotos andré baumecker/divulgação)

O dia 17 de setembro marcou seis meses redondos desde que os integrantes do grupo de teatro Galpão se encontraram pela última vez. O que seria mais uma tarde de ensaios intensos, faltando pouco mais de dez dias para a estreia da peça “Quer Ver Escuta”, no Festival de Curitiba, teve tom de despedida. “Naquele momento resolvemos parar e entrar de quarentena”, lembra Paulo André, integrante da trupe.

O ator destaca que aquela resolução representou um baque na vida dele, acostumado que estava a sempre viajar com os espetáculos e ter na sede do grupo, no bairro Horto, um ponto permanente de encontros e aprendizagens. Como outras companhias, o Galpão bem que tentou se adaptar à nova realidade. O filme “Éramos em Bando”, que será lançado na segunda-feira, às 19h, no YouTube, mostra o quão difícil foi para eles a experiência virtual.

“A gente não tinha a noção precisa de quando iria passar (a pandemia). Achávamos que duraria um mês ou dois. Ao começarmos a fazer ensaios virtuais, nossa intenção era manter o trabalho em fogo brando, para não perder o que já tinha sido conquistado”, sublinha André. Foi no decorrer deste processo que os diretores do espetáculo, Marcelo Castro e Vinícius de Souza, tiveram a ideia de produzir um documentário sobre a impossibilidade de se continuar trabalhando tendo uma tela de computador separando todos. 

“As situações são, em sua maioria, reais, mostrando o nosso esforço em trabalhar naquela condição, em como interagir com aqueles quadradinhos que fazem parte do quadrado maior do Zoom. Como poderíamos vibrar naquele lugar tão inóspito e desértico, especialmente para quem está acostumado com a arte viva?”, indaga. Esta dificuldade acaba criando cenas de humor, principalmente com os atores menos familiarizados com a tecnologia.

Para André, a sensação era de um náufrago tentando se agarrar em tábuas, gerando-lhe a certeza de que aquele não era o lugar do teatro. “As pessoas ficam desesperadas em fazer alguma coisa, mas é muito difícil. Como falo no filme, é uma tentativa falida já na essência. Eu saía sempre muito frustrado desses encontros”, confessa André, que, assim como os demais integrantes, só ficou sabendo do filme no último dia de encontros.

“Éramos um Bando”, cujo título é extraído de um poema de Paulo Henriques Britto, ganhou o reforço de Pablo Lobato como terceiro homem na direção, durante a pós-produção. “Com a sensibilidade gigante de artista, ele editou o filme de maneira muito poética, fazendo uma poesia visual potente quando tentávamos falar de poesia”, elogia André.

O ator aproveitou a quarentena para mergulhar na leitura do escritor mineiro Pedro Nava. “Estava devendo isso e achei a oportunidade maravilhosa para fazê-la. Encontrei uma obra monumental e lamento que tenha acabado”, registra. Apesar de buscar tirar proveito deste momento de pandemia, André é sincero ao dizer que a chegada da noite é sempre desesperadora, pois estaria em cima de um palco em outras épocas.

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