Grupo Ponto de Partida e Milton Nascimento novamente juntos no Palácio das Artes

Miguel Anunciação - Hoje em Dia
17/07/2013 às 08:30.
Atualizado em 20/11/2021 às 20:08

Apesar de radicado em Barbacena, de onde jamais se afastou, o grupo Ponto de Partida escreveu uma história artística sincera e apaixonante: em 32 anos, juntando empenho aos talentos, produziu um número igual de montagens; fundou uma escola de formação de músicos, a Bituca; tornou parceiros centenas de jovens do Vale do Jequitinhonha, até ali, fadados a ter poucas perspectivas; virou referência de como se fazer cultura no interior; e estabeleceu parâmetros definitivos para um musical muito nosso, sem cacoetes de Broadway.   Um exemplo bem acabado destas notáveis competências volta aos palcos: "Ser Minas Tão Gerais" ocupa o Grande Teatro do Palácio das Artes, só nesta quarta (17) e na quinta (18). Somente a sessão desta quarta, às 21 horas, é aberta ao público. A de amanhã é restrita a convidados pelos 50 anos de Copasa, patrocinadora do grupo. E embora os ingressos custem R$ 40 e R$ 20 (meia), o programa é rico, precioso, imperdível.   Com direção geral, dramaturgia e pesquisa musical de Regina Bertola, a encenação de 1h20 conduz ao palco 52 artistas: o cantor e compositor Milton Nascimento, 13 atores do Ponto de Partida, 33 do coletivo Meninos de Araçuaí e uma banda de cinco músicos admiráveis: Gilvan de Oliveira/violão e regência, Enéias Xavier/baixo, Lincoln Cheib/bateria e percussão, Guido Campos/clarineta e flauta, Serginho Silva/percussão. Só feras.   Todos juntos, eles elaboram intensa e festiva alquimia, a partir da poderosa musicalidade de Milton, de canções de domínio popular, da poesia de Carlos Drummond de Andrade e, é claro, reverberações da obra de Guimarães Rosa. Indesviável toda vez que a alma de Minas estiver em questão.   Produzido em 2003, a convite de Marcos Barreto (na época, à frente do projeto artístico com o qual a Telemig Celular sacudiu o ambiente de criação em Minas), "Ser Minas Tão Gerais" já foi apresentado em várias capitais brasileiras, sempre com respostas muito entusiasmadas (o falecido ator e diretor Sérgio Brito adjetivou-o de "ópera mineira"), e representou o que temos de melhor no Ano do Brasil na França. Lá, foi exibido na Champs-Élysées, de Paris, e em Dunquerque.    Gravado em 2004, no Theatro Central, de Juiz de Fora, o espetáculo foi transposto para DVD. Disponível no site do grupo e nos teatros, vendeu dez mil unidades. Outras cinco mil (com "mais a cara do grupo, bonitona, em jornal compactado", diz Pablo Bertola, ator desde os três anos, cantor e compositor) ganharam formato do designer Gustavo Greco, leão de prata e bronze no Festival de Publicidade de Cannes, França. Estarão à venda no saguão do Palácio.   Um Bituca mais negão, mais umbigada e mais tambor nesta primeira reverência à sua obra   Já no primeiro encontro para expor as ideias de montagem de "Ser Minas tão Gerais", num quarto de hotel, Milton e o Ponto de Partida selaram um relação para sempre. O que a princípio era para ser apenas uma participação especial no espetáculo, virou essencial. Onde ele dava o melhor de si, cantou canções que nunca havia gravado e expôs uma face menos notada da sua obra.   Uma feição "mais afro, mais negão, mais umbigada e tambor e menos pop de Milton", salienta Pablo Bertola, atribuindo este inesperado registro à diversidade da música do Vale, inspiração trazida pelo Meninos de Araçuaí. Apaixonado pelo Ponto, pelos Meninos e pelo espetáculo, Milton passou a priorizar espaços na sua agenda concorrida para estar em cena no (primeiro?) musical que o homenageia.    Em contrapartida, em 2004, o Ponto batizou a escola de formação musical com o apelido do seu ídolo, amigo e parceiro – vale frisar que a Bituca já formou 800 instrumentistas, 200 a cada dois anos, a despeito das dificuldades de manutenção. Emocionado pelo carinho irrestrito que lhe dispensaram, Milton se dispôs a participar de três cortejos de Reis que o Ponto realiza tradicionalmente (em Barbacena, Três Pontas e Itabira), doou a Barbacena uma apresentação aberta do show "Pietá" e em 2012 levou à cidade o show que comemorava seus 50 anos de vida artística.   Saudado pelos maiores festivais internacionais do mundo, o cinquentenário profissional de Milton, lógico, não passou em branco no Ponto. Mesmo sem apoio de leis de incentivo remontou "Ser Minas" para honrar o convite do Teatro Alfa – na segunda vez que o espetáculo era levado a São Paulo; depois foi à Flip.   Aos fãs de sempre do Ponto e aos que os DVDs (o musical "Pra Nhá Terra" também teve o seu) seduziram – onde o teatro não consegue chegar – tem mais em BH: dias 2 e 3 de agosto, se apresenta com "Par", no Teatro Bradesco. Essencialmente brasileiro como os outros, este musical fala de relações amorosas a dois (ou a três, conforme a fidelidade de um dos vértices), em diversas fases e modalidades. Não deixe de ver.

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