Hip hop conquista espaço nobre em Belo Horizonte

Cinthya Oliveira - Do Hoje em Dia
25/01/2013 às 14:30.
Atualizado em 21/11/2021 às 21:09
 (Pablo Bernardo/ Divulgação)

(Pablo Bernardo/ Divulgação)

Em janeiro do ano passado, o Duelo de MC’s se apresentou para um Palácio das Artes lotado. O sucesso foi tão grande que o Verão Arte Contemporânea volta a colocar o movimento hip hop dentro do principal espaço cultural da capital. Amanhã, os rappers Matéria Prima e Monge apresentam no Grande Teatro o show “Material de Zion”, com um misto dos discos lançados há pouco pelos dois. Serão vários convidados – em especial, Thaíde.

O show é simbólico para a atual cena do hip hop mineiro. Os rappers fazem parte de uma turma que se destaca pela qualidade estética e profissional. Uma cena plural onde estão Flávio Renegado, Dokttor Bhu e Shabê, Julgamento, Zimun, Coletivo Dinamite, MC Simpson Souza, Nil Rec e Coyote Beatz, a Família de Rua (que produz o Duelo) e muito mais.

“É muito gratificante ver que, de uns anos pra cá, o hip hop vai interagindo de outras formas com a cultura da cidade”, afirma Matéria Prima, sobre a ocupação do Palácio das Artes. “É mais um passo que consolida de fato o hip hop como expressão artística que merece tanto espaço como outras formas de expressão que lá se apresentam”. O músico vai apresentar faixas de seu álbum “Material de Estudo”, intercalado com “CaminhodeZion”, de Monge.

Lotado

Uma prova de que o público mineiro está aberto ao rap foi o show de Dokttor Bhu e Shabê, no último dia 16, no Teatro Marília, para o pré-lançamento do álbum “Conglomano”, que sairá em março. A plateia era bem heterogênea.

“Se não tivesse chovido tanto, teria gente do lado de fora”, diz Dokttor Bhu. “No público não tinha só pessoal que ouve rap. Tinha um pessoal de diferentes idades. Lembro de uma menina com a camisa do Ramones que depois nos adicionou no Facebook e divulgou nossas músicas”.

Segundo Dokttor Bhu, o rap hoje é bem diferente daquele marcante dos anos 80 e 90, quando o protesto era fundamental. “Em nosso disco há uma música que fala sobre relacionamento e outra que faz alusão à época da ditadura”.

Duelo

Para o jornalista e um dos vocalistas do Julgamento, Roger Deff, vários fatores foram fundamentais para a profissionalização e qualidade da cena local do hip hop. A linguagem mais acessível e o sucesso do Duelo de MC’s foram determinantes.

“Além disso, tem o sucesso atual dos paulistas Criolo e Emicida em todo o país. Isso atrai atenção para artistas de outras cidades porque há uma popularização do rap e do hip hop”, diz Deff.

Enquanto os integrantes do hip hop deixaram o purismo de lado (antigamente, muitos acreditavam que rap devia ser feito de forma clássica, com MC e DJ) e passaram a admirar artistas que flertassem com outros gêneros, os roqueiros também aceitaram a presença de rappers em seus festivais. Bandas como Zimun e Julgamento, por exemplo, tiveram misturas de rap e rock muito bem aceitas nos dois universos.

“Tem gente que fala dessa mistura como nova, mas isso é uma característica do rap. Sempre houve diálogo com outras linguagens, com músicas que nem sempre falam necessariamente de contestação”, explica Deff.

Uma proposta de mistura bem aceita também é do Coletivo Dinamite, que no ano passado lançou um EP, homônimo, com forte referência do rap, mas muito diálogo com o funk e o soul.

“A mistura é inevitável, pois é uma banda que compõe coletivamente. Embora não seja um grupo de rap, essa é uma referência muito forte e fomos muito bem recebidos pelo público do hip hop”, diz o baterista Braz Mitchell. “O caminho do hip hop mineiro é o caminho de toda música brasileira”, avalia.

Serviço

Show “Material de Zion” no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537, Centro), amanhã, às 21h. R$ 14 e R$ 7 (meia).

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