(ALEXANDRE REZENDE/DIVULGAÇÃO)
“É mais fácil dizer o que não faço no circo”, registra Affonso Monteiro, representante de uma longa linhagem de circenses. A Família Monteiro tem 110 anos de história ligada ao mágico mundo do picadeiro, iniciada com uma bisavô espanhola que, numa turnê onde se exibia num trapézio acoplado a um balão de ar quente, resolveu fixar-se no Brasil. Hoje a família tem sede no bairro Mantiqueira, em Venda Nova, ganhando de vez raízes mineiras.
No Dia do Circo, que será lembrado amanhã, os sete integrantes responsáveis por deixar o Aloma de pé têm outras boas razões para comemorar. Na segunda-feira, o curta-metragem “Sob o Céu e a Lona: 110 Anos de Tradição no Picadeiro”, dirigido por Alexandre Rezende, ganhará as redes sociais. “É um projeto antigo nosso fazer este registro. É importante reconhecer que o circo familiar ajudou a construir a nossa cultura”, observa Monteiro.
Affonso leva o nome de seu avô, que, na época de garoto, não se adaptou à vida “normal” e fugiu de casa para trabalhar no circo. “A Mercedes, minha bisavô espanhola, tinha morrido após sofrer um acidente durante uma apresentação de tourada. Na hora de laçar o boi, a perna dela ficou presa. Meu bisavô ficou muito desgostoso e resolveu parar com o circo. Meu avô não queria estudar e veio para BH”.
Foi aqui que o avô conheceu Maria da Conceição, fazendo da capital mineira a base da itinerância da trupe. O filho do casal, Max Borges, ajudou a construir essa mineiridade, comprando um terreno em Venda Nova, há 40 anos. Mal sabia ele que, em 2003, o local passaria a ser a sede fixa do Aloma. “Naquele tempo, estava muito difícil manter a característica familiar morando na lona, devido à crise financeira”, lembra Affonso.
A estrutura era muito grande para ser transportada, onerando os custos durante as viagens para o interior de Minas Gerais. ‘Tínhamos que buscar outros circos para trabalhar. Para não desfazer a família, com cada um seguindo um rumo, encontramos uma maneira de facilitar a produção que foi montar a sede”, explica o malabarista, acrobata e palhaço do Aloma que assina a direção artística do filme.
É Max o personagem central do documentário. Hoje ele está com 77 anos, mas a ideia de aposentadoria passa longe da mente dele, responsável pela palhaçaria nas apresentações. “Numa das falas dele no documentário, diz que seu sonho é morrer no picadeiro, como artista de circo, não importando o dia e a hora. Tudo que ele sabe fazer na vida está no circo. Fora dele, papai se sente um peixe fora d’água”.
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