Oito anos após "Batman Begins" apresentar um super-herói solitário, vingativo, violento e cheio de culpas e traumas, agora é a vez de Superman ser mergulhado no lado escuro da psiquê.
Em pré-estreia neste fim de semana, em nove complexos de Belo Horizonte, "O Homem de Aço" realiza, como no Batman do diretor e roteirista Christopher Nolan, um reboot mais dark do kryptoniano.
A semelhança não é acidental: Nolan assina o texto, ao lado do parceiro habitual David S. Goyer. Dentro desse universo mítico dos HQs, Batman e Superman encontraram o mesmo caminho para sobreviverem no cinema.
Para resumir numa única palavra: cris-tianização. Assim como o Homem Morcego, o Homem de Aço virou um salvador como Jesus Cristo, com diálogos e situações que remetem à vinda do "salvador".
A angústia do personagem passa por essa leitura. O pai Jor-el (Russell Crowe) ressalta o sacrifício do filho como a "ponte entre dois mundos", entre a Terra e um povo que não existe aos nossos olhos (Krypton).
O planeta natal de Clark Kent foi completamente destruído, mas é representado no que o extraterrestre tem dentro dele, que pode ser lido, metaforicamente, como sua bondade e confiança nos homens.
Idade de Cristo
Jor-el sempre aparece para seu filho, como se fosse um espírito a guiá-lo em suas provações para fazer os homens acreditaram em suas boas ações. Por sinal, Kent se revela como Superman aos 33 anos, mesma idade de Cristo.
Num plano menos religioso, "O Homem de Aço" critica uma sociedade que prefere destruir o que não pode entender ou controlar. O estranho é posto à margem. Dentro dessa perspectiva, é possível até mesmo compreender o vilão Zod.
Presente nos filmes do "Superman" da década de 70, o general de Krypton carrega uma lógica plausível, como o Coringa, arquirrival de Batman. Ele foi concebido para proteger seu povo, independentemente se for à custa de outro. Seria uma alfinetada nas religiões fundamentalistas?
Christopher Reeve ainda continua na lembrança
A abordagem mais introspectiva implementada pelo diretor Zack Snyder (de "300") difere muito do bem-humorado e romântico personagem vivido por Christopher Reeve, ainda hoje a adaptação mais lembrada – supera em muito a esquecível versão que Bryan Singer lançou em 2006.
Reeve continua sendo a "cara" do herói, mas Henry Cavill, convocado por conta da bela estampa somada aos bíceps exibidos em "Imortais", não compromete. Não tem o mesmo carisma e seu rosto não reproduz uma nuvem negra sequer do que a história desenvolve.
Secundários
Michael Shannon entra para a galeria dos bons vilões do cinema, complexo e não caricato. A produção também teve cuidado para escalar os atores secundários: Amy Adams vive a repórter Lois Lane, menos workaholic e autoritária. Para os pais adotivos de Kent, aparecem Kevin Costner e Diane Lane.