Homenagem chama atenção na Praça Duque de Caxias, no Santa Tereza

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
05/09/2015 às 07:58.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:39
 (Wesley Rodrigues / Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues / Hoje em Dia)

A pauta era outra, mas, quando o repórter fotográfico Wesley Rodrigues passou pela Praça Duque de Caxias, sua atenção foi imediatamente atraída por instigantes elementos dispostos por um “misterioso” autor– pessoas habitués do espaço não souberam responder, de pronto, naquele dia, o nome por trás da iniciativa de espalhar, em prosaicos caixotes de feira, devidamente pintados de azul, frases de composições que, originárias de talentos da terra, fizeram ecoar a magnitude da música mineira por todo o país – e pelo mundo. Nomes que se tornaram conhecidos no movimento Clube da Esquina, ainda que os versos de algumas das canções agora transformados em intervenção artística sejam das carreiras solo dos, digamos assim, associados.   E, assim, os que vão aproveitar o sol que marca este inverno atípico acabam se deparando com trechos de músicas como “O Sal da Terra”, de Beto Guedes. A constatação inequívoca: os versos continuam atuais, atualíssimos. Quem negaria pertinência às palavras: “um mais um é sempre mais que dois/Pra melhor juntar as nossas forças/É só repartir melhor o pão”.   O “mistério” sobre a autoria foi logo desvendado: o azul é a marca do projeto “Santa Leitura”, que promove o acesso a livros a céu aberto, em praças da cidade – em particular, a de Santa Tereza, que, neste domingo (6), das 9 às 13h, recebe mais uma edição – e “pra” lá de especial, com o ‘Circuito Infância”, com Pierre André, Ana Cristina e o Varal da Poesia. Os caixotes, pois, são de Estella Cruzmel, dublê de idealizadora do “Santa Leitura” e artista plástica. Na verdade, a intervenção citada não é a sua primeira nestes moldes: em dezembro passado, ela fez uma similar, mas com frases de Carlos Drummond de Andrade, na Praça Salvador Morici, na Floresta – que, aliás, tratou de adotar. A ideia dos caixotes veio da observação arguta de Estella: “Via aquele tanto sendo descartado na pizzaria em frente (à praça)...”.   A intervenção Drummond fez sucesso. “Virou igual a Torre Eiffel”, brinca ela, referindo-se ao interesse aferido pelo número de pessoas que foram lá, registrar tudo em foto. E não, que ninguém imagine que a iniciativa possa terminar sob a ação de vândalos. “O respeito é grande”, festeja ela, que já foi convidada para ministrar uma oficina de pintura em caixotes, o que deve se concretizar no próximo mês. Sim, porque se o fundo traz as frases, as laterais são reservadas a temas afins ao universo inspirador: no caso da de Santa Tereza, flores; na Salvador Morici, linhas que remetem ao Barroco.   Todo o trabalho de Estella é voluntário. Leia-se, não-remunerado. Ao menos no que diz respeito a dinheiro, l’argent. Mas, bem, o que ela recebe em troca é muito, muito mais precioso. Quer um exemplo? “Adoro me sentar e ver as pessoas lendo as frases e, depois, sair, cantarolando ou assoviando...” E, de fato, precisa mais?

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