Importante difusor do cinema nacional, 'Sessão Vitrine' perde apoio da Petrobras

Paulo Henrique Silva
20/02/2019 às 12:20.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:38
 (VITRINE/DIVULGAÇÃO)

(VITRINE/DIVULGAÇÃO)

 Os primeiros reflexos da determinação do governo federal em tirar o cinema da linha de patrocínios da Petrobras já se fazem sentir, com o anúncio da suspensão da parceria da estatal petrolífera com a “Sessão Vitrine”, importante projeto de exibição dedicado a filmes independentes produzidos no país. O documentário “Lembro mais dos Corvos”, de Gustavo Vinagre, que entra em cartaz hoje, encerra um vínculo que beneficiou 16 títulos, entre eles o mineiro “Temporada”, de André Novais de Oliveira. “Estávamos em processo de renovação desde o ano passado, mas fomos informados que não haverá continuidade”, afirma Talita Arruda, coordenadora do projeto. 

“A Sessão também tinha um trabalho de formação de público, que vem de uma lógica cineclubista, realizando sessões com debate. Isso foi essencial para os filmes ficarem em cartaz por mais de uma semana”Juliana Antunes, cineasta

 A parceria começou em 2017 e, ao todo, foram apresentados 25 títulos que, devido ao formato de produção, não teriam a mesma visibilidade (mais de 20 cidades do país) e acessibilidade (os ingressos saem por R$ 12). Os coordenadores ainda não falam em dar um desfecho ao programa, mas sabem que a abrangência será menor. “É um retrocesso a perda deste patrocínio. Por ser uma notícia recente, ainda não sabemos como iremos seguir. Nosso desejo é não parar e vamos pôr o máximo de esforço para que o projeto prossiga, embora o cenário não seja muito promissor”, registra Talita.  Um dos filmes que estavam no próximo pacote era “Querência”, do diretor mineiro Helvécio Marins Jr. O longa-metragem será lançado neste ano, a partir de uma verba de distribuição prevista no Fundo Setorial do Audiovisual, mas a coordenadora teme que até mesmo esse programa governamental seja interrompido. Filmes alternativosA “Sessão Vitrine” aconteceu pela primeira vez em 2011 e 2013. A falta de patrocínio levou à suspensão do projeto até 2017, quando retornou com o apoio da Petrobras. Um dos longas-metragens contemplados foi “Baronesa”, vencedor da Mostra de Cinema de Tiradentes de 2016 e dirigido por Juliana Antunes. “A distribuição que fazem é super interessante, pegando filmes que não teriam alcance comercial, como é o caso de ‘Baronesa’, para lançá-los em várias salas do circuito. A gente sabe como é difícil um filme alternativo brasileiro chegar em 20 salas”, analisa Juliana, que destaca o fato de seu primeiro longa ter ficado dois meses em cartaz em alguns cinemas. Ela lembra que “Baronesa” foi feito com um orçamento de R$ 50 mil, metade do valor de um curta-metragem. “É um trabalho de guerrilha. (Com tão poucos recursos) Esse filme só foi possível pela Sessão Vitrine. Dificilmente chegaria de outra maneira, porque não tínhamos um centavo sequer para fazer a distribuição”, assinala. Em seu site, a Petrobras informa que “construiu um forte elo com o cinema nacional” desde 1995, “tornando-se a maior parceira da Retomada do Cinema Brasileiro, tendo patrocinado mais de 500 longas-metragens”. Recentemente, a estatal soltou nota dizendo que “está revisando sua política de patrocínios, em alinhamento ao novo posicionamento da marca da empresa, com foco em ciência e tecnologia e educação, principalmente infantil”.

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