Inhotim leva mais de 50 obras para o centro de belo horizonte

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
12/12/2014 às 09:05.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:21
 (Sprüth Magers Berlim-Londres/)

(Sprüth Magers Berlim-Londres/)

Primeira mostra itinerante do acervo do Instituto Inhotim, com abertura nesta sexta-feira (12) no Palácio das Artes e no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, “Do Objeto para o Mundo – Coleção Inhotim” é uma boa oportunidade para desfazer um “mal entendido” em relação ao termo “reserva técnica”, que é aplicado, por curadores para se referir à parte do acervo (de museus, galerias e afins) que não está, ao menos momentaneamente, exposta.

Aos menos habituados com os jargões do meio, o termo pode soar como uma espécie de juízo de valor, como se tais obras não figurassem entre as “melhores” da coleção, quando, na verdade, está mais relacionado ao espaço físico e à integração com as outras obras. “A explicação está nas variáveis curatoriais, pois é preciso decidir entre uma e outra obra, escolhendo as que fazem sentido ao contexto de uma exposição. É mais do que uma questão meritória”, destrincha Rodrigo Moura, diretor de arte e programas culturais do Inhotim e curador de “Do Objeto para o Mundo”.

A mostra reúne mais de 50 obras, de variados autores e épocas. Rodrigo frisa que não se trata apenas de “tirar” as peças da chamada reserva técnica para fazê-las circular – até porque, várias delas já saíram do complexo localizado em Brumadinho para participar de outras exposições ou retrospectivas de determinados artistas.

“Meu desafio foi criar uma ligação com o que está exposto em Inhotim não do ponto de vista acumulativo, mas, sim, uma grande articulação com todas as partes, de maneira que, ao acompanhar a mostra em Belo Horizonte, os visitantes tenham vontade, depois, de conhecer o que está no parque Inhotim”, observa o diretor, que tem, à sua disposição, aproximadamente 200 obras – somando-se aquelas que estão na reserva técnica.

Título faz referência a uma exposição realizada em 1970

O curador Rodrigo Moura registra a sua luta contra o espaço físico e vê a parceria com a Fundação Clóvis Salgado, gestora do Palácio das Artes e do Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, como uma boa solução para cumprir aquilo que considera a função primordial de qualquer obra de arte: ser acessada e gerar conhecimento sobre ela.

“E o fato de fazer essa primeira exposição itinerante em Belo Horizonte nos abre a possibilidade de criar um público novo a partir desse recorte. Inhotim tem uma relação muito especial com a população da cidade, mas sabemos que não atingimos todo o público. Há, sem dúvida, uma parcela potencial adormecida”, sublinha o diretor de arte de Inhotim.

Moura ressalta que, devido ao tamanho do acervo, alternativas temáticas para exposições fora do parque de Brumadinho – atualmente reconhecido como o maior centro de arte ao ar livre da América Latina – não faltarão.

Já em 2015, mais precisamente em abril e maio, a segunda cidade a receber uma mostra de Inhotim será São Paulo, no Itaú Cultural. Segundo Moura, será praticamente a exposição que aporta nesta sexta-feira (12) em BH, mas com menos obras. No caso da capital mineira, a curiosidade é a presença de peças que participaram da exposição que marcou a inauguração do Palácio das Artes, em abril de 1970.

São elas “Ação no Parque Municipal”, de Décio Noviello, e “Situação T/T1 – Belo Horizonte”, de Artur Barrio. O título “Do Objeto para o Mundo” é, justamente, uma referência à mostra realizada na época, “Do Corpo à Terra”, organizada por Frederico Morais e marco das investigações sobre arte ambiental e experimentalismo de vanguarda no Brasil. (PHS)

“Do Objeto para o Mundo – Coleção Inhotim” – No Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1537) e Centro de Arte Contemporânea (Avenida Afonso Pena, 737). Desta sexta-feira (12) até 8 de março de 2015. De terça a sábado, das 9h30 às 21h. Domingo, das 16h às 21h. Entrada franca.

Obra é ainda inédita em território nacional

Uma das vedetes da exposição “Do Objeto para o Mundo – Coleção Inhotim” é a videoinstalação “Homo Sapiens Sapiens” (2005), de Pipilotti Rist, que será apresentada a partir desta sexta-feira (12) no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia. Apesar de ter sido filmada no Inhotim antes da abertura do parque à visitação livre, a obra será exibida pela primeira vez no Brasil. Ela explora os jardins do Instituto e cria um ambiente de imersão a partir de imagens projetadas no teto.

Percurso por diferentes escolas e estilos

Comece o passeio pela Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, localizada bem próxima à entrada do Palácio das Artes. Ali, as obras foram organizadas em quatro núcleos, partindo do neoconcretismo de Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape e passando pela geometria conceitual de Channa Horwitz, Cildo Meireles e David Lamelas e pelo vanguardismo do grupo Gutai, surgido no pós-guerra do Japão. O percurso chega ao final com o acionismo e a presença do corpo na arte, presente no trabalho de Chris Burden.

Mostra conta com obras de grande escala

As obras dos artistas renomados presentes na grande galeria são apresentadas em diálogo com artistas de gerações mais jovens, como Gabriel Sierra, Jac Leirner, Cinthia Marcelle, entre outros. Já as três galerias do piso inferior do Palácio das Artes abrigam instalações de maior escala, como as de Ernesto Neto, Jorge Macchi, Mauro Restiffe, Melanie Smith, Rivane Neuenschwander e Thomas Hirschhorn.

O Inhotim inaugurará, no próximo ano, uma galeria dedicada à fotógrafa suíça Claudia Andujar, radicada no Brasil desde a década de 1950. O pavilhão terá 1.600m2 e reunirá mais de 500 fotos feitas por ela durante o período em que viveu com os índios Ianomâmi, que habita a floresta amazônica, na fronteira entre Venezuela e Brasil. Também em 2015, o Inhotim irá expor um trabalho site-specific de Olafur Eliasson, intitulado “Belo Horizonte Expectations”. A obra, de 314m2, cria uma linha do horizonte de luz natural, única fonte de iluminação do pavilhão circular desenhado pelo artista.
 

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