Iniciativas bacanas visam dar um basta na febre do consumismo exacerbado

Thais Oliveira - Hoje em Dia
28/04/2015 às 07:24.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:48
 (Fabiana Soares)

(Fabiana Soares)

Fabiana Soares, 27 anos, sempre se considerou uma pessoa criativa – tanto que escolheu a publicidade como profissão. Mas foi ao conhecer a Feira Grátis da Gratidão, em julho de 2013, que teve um insight dos mais bacanas. “Queria criar algo mais simbólico e que pudesse ajudar as pessoas”. Foi assim que nasceu o projeto “Brigadeiro por Desapego”. Funciona assim: a pessoa “entrega” aquilo que não quer mais na vida (“pode ser algo material ou por escrito”). Em troca, ganha o docinho, feito de chocolate, leite condensado e manteiga.

Fabiana esclarece: o que for entregue por escrito é queimado em uma fogueira, que ela faz ao fim de cada ano. Já as coisas palpáveis são doadas na própria feirinha. “Recebemos coisas diversas, mas o mais comum são escritos de quem quer parar de fumar ou de pessoas que querem deixar sentimentos ruins para trás”, conta.

A Feira da Gratidão é realizada, em média, quatro vezes por ano. A próxima será no domingo, 17 de maio, na Praça da Liberdade

Desapegar. A palavra está na moda, mas ainda pode causar calafrios em muita gente. Com o objetivo de propor uma reflexão sobre o apego e o consumismo exacerbado, não são poucos os projetos que enfatizam que é possível sim, levar a vida de uma maneira mais simples.

Na exposição “Desconstrossumismo”, que se encerra nesta quinta-feira, no Núcleo Caminhos do Futuro no Plug Minas, por exemplo, os jovens Frank Soarbine e Flaviana Lasan desconstruíram objetos como forma de criticar o consumismo. “Após estudarmos nove meses sobre a Revolução Industrial, percebemos como o consumismo continua, cada vez mais, afetando a vida da gente”, afirma Soarbine.

A exposição, inspirada também no poema “Desobjeto”, de Manoel de Barros, abarca as obras “Engolidor de Palavras”, “Guarda Medos”, “Silêncio”, “Reprodutor de Ilusão” e “Máquina do Tempo”. “Todas as obras viraram ‘desobjetos’ e essa é uma forma de mostrar que podemos fazer o que quiser com elas, pois não devemos viver em função das coisas. Na realidade, são os objetos que devem existir em função da gente”, afirma Soarbine.

 

A DONA DA IDEIA – Fabiana incentiva as pessoas a deixar as coisas ruins (físicas ou não) para trás. Foto: Divulgação

 

Sem ressentimentos

O músico Du Masset, 28 anos, foi além: compôs uma música com o nome “Desapego”. É, aliás, a faixa de trabalho do EP “Moral”. “Antes, não compartilhava minhas canções, era egoísta. Mas chegou uma hora em que precisa ter feedback. Foi quando descobri que muitas pessoas se identificavam com a letra, foi gratificante”, conta. E Masset acabou se descobrindo também.

“Tinha terminado uma relação e não estava aceitando bem. A música caiu perfeitamente para mim, fazê-la foi como uma terapia”, conclui.

 

Achava que consumir muito era uma coisa legal’, diz Roberta

Influenciar os leitores a terem uma vida pautada pela alegria, paz e gratidão. Esse era objetivo o de Ann Voskamp ao tomar para si a tarefa de escrever o livro “Vida Simples”, publicado pela editora Mundo Cristão. A trama virou um best-seller – trata-se de um contraponto à dinâmica marcada pelo consumismo desenfreado da atualidade.

Na história, Voskamp conta que, apesar de ter passado por uma tragédia familiar, conseguiu deixar as mágoas para traz e optou por levar a vida de uma forma mais leve.

Na vida real, há também bons exemplos de pessoas que optaram por simplificar as coisas, como a publicitária Roberta Maia, 35 anos. Ela passou a maior parte dos anos acumulando roupas. As peças mal cabiam em seus dois quartos. Sim, um quarto só era pouco para Roberta, que guardava parte das peças em seu apartamento em BH e em sua cidade natal, Campo Belo.

“Quando morava no interior, tinha a mania de mandar fazer roupas na costureira e ficava juntando tudo. Depois, me mudei para a capital e fiquei doida com tantas lojas de departamentos. Para piorar, fui morar em Londres. E foi quando enlouqueci”, exagera. Quando voltou do velho continente para Belo Horizonte, três anos depois, eram tantas bagagens que, acredite, elas tiveram que vir de navio. “Naquela época achava que consumir muito era uma coisa legal”, recorda.

 

ROBERTA MAIA – “Aprendi que a ocasião especial é sempre o hoje e, sobretudo, que a gente tem que criar espaços para as coisas novas chegarem, deixar ir, desapegar”, reflete a autora do blog modabetamaia.com. Foto: Luiz Costa/Hoje em Dia

 

“Me sinto mais leve"

E, quem pensa que a moça parou por aí, se engana. “Abri uma empresa e eu mesma fazia as roupas, era a estilista. Por seis anos, acumulei todas as coleções completas”, confessa. A loja fechou suas portas em janeiro de 2014 e, após um período de reflexão, Roberta viu que não era mais possível continuar naquele ritmo.

Em setembro do ano passado, ela promoveu um bazar, no qual se desfez de quase tudo que tinha. O restante, doou para um curso do Senac Plug Minas. “Hoje, todas as minhas roupas cabem em duas portas de armário. Aprendi que o valor das coisas não está na quantidade e, agora, faço escolhas melhores. Me sinto muito mais leve”, garante.

Na internet, várias iniciativas similares podem ser encontradas. O músico João Gordo, por exemplo, comercializa roupas usadas. Sua mulher, a argentina Viviane Parra, é defensora ferrenha dos brechós.

Outra ação interessante foi o projeto “Um Ano Sem Zara”, no qual Joanna Moura prometeu a si própria ficar 365 dias sem comprar roupa. Mas postando looks gerados a partir das roupas que já estavam penduradas no cabide. Deu supercerto, e foi um sucesso.

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