Inspirada na "Cow Parade", Mônica chega a BH em novas versões

Elemara Duarte - Hoje em Dia
25/03/2014 às 07:09.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:50
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Parece que estamos dentro das páginas de uma revistinha. “Mônica, vamos lá! Cadê a Magali?”, apressa as filhas, o cartunista Mauricio de Sousa, na Savassi. O trio foi conferir a disposição das 20 esculturas, com quase dois metros de altura cada, do projeto “Mônica Parade”. As peças ficarão expostas até 24 de abril na região. A personagem mais popular dos quadrinhos brasileiros, inspirada na filha “real” do cartunista, fez 50 anos em 2013 – e a exposição integra as comemorações.
No próximo semestre, será a vez de Magali soprar velinhas. O festejo pode, inclusive, começar em Belo Horizonte, onde a outra filha de Sousa, hoje já avó de dois netos, vive há cerca 20 anos.
Se as “Mônicas” no papel encantam há tanto tempo, imagine as “moniconas” da Parade? Com o criador delas ao lado, então, mais badalação ainda. “Ela perduram no tempo”, disse, na última segunda-feira (24), a estagiária Jussara Viana Indelicato, 23 anos.
Passando pela Savassi, ela viu as esculturas – cada uma estilizada por um artista plástico brasileiro – parou para capturar uma foto e eis que, surpresa, o criador estava ao lado! Resultado: foto com ele e com as filhas de Sousa também. As imagens dos fãs junto às esculturas podem ser compartilhadas no www.monicaparade.com.br.
A ideia é admitidamente inspirada na “Cow Parade” (quando esculturas de vaquinhas estiveram em exposição nas ruas de várias capitais do mundo, entre elas, BH, em 2006). “O lado negativo é a idade das minhas filhas”, brinca Mauricio. “O bom é que elas não aparentam”, elogiou ele, durante a coletiva de imprensa, seguida de um passeio pela Savassi, na manhã da última segunda-feira (24).   Gibi vai ganhar novo personagem
As novidades para a “mônicamania” não param com a “Mônica Parade”. Nos próximos dois anos, devem ser lançadas as “revistas virtuais” da turma. Por enquanto, no mundo virtual há produtos vendidos por meio de aplicativos. “Em dois anos, esperamos ter uma representatividade tão grande nesta área quanto já temos nos papeis”, prevê Mônica Spada Souza.
Um novo personagem também deve desembarcar nos gibis nos próximos meses. Trata-se de “Marcelo”, inspirado em outro filho de Mauricio de Sousa. Marcelo aborda assuntos sobre economia e contrários ao consumismo – características pessoais de mais este integrante do clã dos Sousa. “Imagine um menino de 6, 7 anos falando disso”, sugere o cartunista.
Assim como eram as características das personagens das irmãs Mônica (quando criança, briguenta, dentuça e gordinha) e Magali Spada Souza (a comilona). “Bem, vocês podem ver, eu não inventei nada. Olhei em volta e fui copiando”, justifica Mauricio, aos risos, sobre a inspiração caseira.
Mônica diz que nunca aceitou muito bem ser chamada de baixinha, dentuça e gorducha – mesmo que na realidade apresentasse tais características. “Especialmente na adolescência, ninguém quer parecer a Mônica personagem”, admite a empresária.
Hoje, a empresa que produz o conteúdo para a marca possui 200 funcionários. Todos regidos pela filosofia e pelo traço de Mauricio. “Somos uma fábrica de conteúdos. Todas as revistas passam pela minha mão. Eu pré-edito”, explica. Assim, dos estúdios sai pelo menos uma revista por dia.
“Se tiver conteúdo, vende. Por isso, o investimento é no conteúdo”, reforça o presidente da Editora Panini, José Eduardo Severo Martins. A empresa é uma multinacional que atua na publicação de quadrinhos.
O futuro
Questionado se ainda há espaço no mundo dos quadrinhos para mais iniciativas de sucesso Mauricio é esperançoso: “Sou só o começo, ainda há muito espaço para outros quadrinistas”, diz.
O sucesso dos personagens, Mauricio credita aos valores humanos e de união que a turma expõe nas histórias. Mesmo com as briguinhas, existe um elo mais que forte entre os personagens da turminha”, diz ele, “é um típico comportamento da família mineira”.
Outros valores como a iniciativa e a coragem da Mônica encantam outros públicos pelo mundo. “Na Indonésia, um dos países mais muçulmanos do mundo, a Mônica virou líder feminista”, exemplifica o criador da “dentuça” cinquentona.
Assim, de país em país, de geração em geração, a personagem e sua diversa turma vai acompanhando leitores... “Muita gente aprendeu a ler com a Mônica. E a minha filha vai por este mesmo caminho”, deseja o artista plástico e empresário José Geraldo Gamarano, o “Ladim”.adim, 60 anos, mora em Mariana, na Região Central de Minas e passeava pela Savassi com a filha Maria Eduarda, de 1 ano, no colo.
“Algum de vocês aprendeu a ler com a Mônica, aí?”, questionou Mauricio de Sousa, durante a coletiva com jornalistas mineiros. Quase todo mundo levantou a mão. “Que pena que eu não posso dizer o mesmo”, brincou o cartunista de 78 anos.
Mais Parede
Na passagem da exposição ao ar livre por São Paulo, mais de 5 milhões de pessoas visitaram as esculturas da Mônica. Fotos no Instagram foram mais de 15 mil. As 30 peças da capital paulista, após a exposição, foram leiloadas. O valor arrecadado foi doado para a Unicef.
Em BH, uma das peças, mais precisamente a “Mônica Embaixadora”, idealizada por Mauricio, está próxima das fontes dos cruzamentos das avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas.
A personagem, a eterna menina de vestido vermelho, está de faixa indicando a condecoração que recebeu da Unicef, à espera dos admiradores de todas as faixas etárias.   MINIENTREVISTA: Mauricio de Sousa   Como você tem encarado assuntos como gravidez na adolescência, solidão e relacionamentos homoafetivos típicos e mais em evidência no nosso século?
Nas histórias infantis eu evito, pois penso que ainda não estaria na hora de abordar isso. Mas nas histórias para jovens, já começamos a mexer, assim como em revistas especiais.
Afinal, os outros personagens têm ampla identificação com gente que conhecemos em algum momento da vida...
Claro. Todo mundo tem um Chico Bento, uma Mônica na família. E o Cebolinha... Sempre tem um Cebolinha na história.
E relacionamentos homoafetivos?
Eu tentei, mas não deu certo. O público não aceitou. Eu sugeri, mas a rejeição foi tão grande que pensei ainda não ser a hora. Vou esperar um pouco. Dependemos da aceitação.
Pretende criar um personagem gay?
Ainda não sei. Quando eu coloquei um personagem filho de pais divorciados, o Xaveco (Xaveco é um personagem coadjuvante da Turma, criado nos anos 1960 e cujo nome teve inspiração em seu cabelo em forma de chave. Anteriormente, o personagem era identificado com a sigla “CH”) , já deu o que falar. Mas era o momento.
Dependo da aceitação do público.
Seria um homem ou uma mulher?
Ainda não sei.
Mas está na sua cabeça?
Está na minha cabeça, sim. Sei que saberia como fazê-lo.  

 

NA SAVASSI - Magali e Mônica; Mauricio de Sousa; e José Geraldo Gamarano e a filha Maria Eduarda. (Créditos: Elemara Duarte/Hoje em Dia)

 

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