Inspirado em fanfic, 'After' chega aos cinemas brasileiros na próxima semana

Jéssica Malta
29/03/2019 às 19:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:01
 (Divulgação)

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O cantor Harry Styles ainda fazia parte da boy band One Direction quando, em 2013, a escritora norte-americana Anna Todd escreveu “After”, história que o trazia como protagonista em uma narrativa ficcional. A fanfic – como é chamada a produção que recorre à personagens ou pessoas já existentes na cultura midiática – tornou-se um fenômeno na web, alcançando mais de 1,6 bilhão de leituras na plataforma onde foi publicada.

Transformada em livro, a saga escrita por Todd repetiu o sucesso vendendo mais de 11 milhões de exemplares ao redor do mundo. Agora, a história conquista outro espaço: o dos cinemas. No Brasil, a estreia acontece no próximo dia 11. 

Apesar de o exemplo mais recente ser a trama de Todd, o sucesso de fanfics para além do universo dos fãs não é uma novidade. Aliás, foi de um caminho parecido que surgiu outro fenômeno literário e cinematográfico: “Cinquenta Tons de Cinza”, de E.L. James, que inicialmente nasceu como uma fanfic da saga “Crepúsculo”. 

Para a pesquisadora Mayara Barros, doutoranda em Comunicação na Universidade Federal de Rio de Janeiro (UERJ), o sucesso dessas histórias em outros territórios midiáticos é uma prova do quanto essas produções são importantes na jornada de vários autores. “Muita gente usa esse tipo de produção como treinamento, com o objetivo de melhorar suas habilidades de escrita, e não me surpreende nem um pouco que livros adaptados de fanfics tenham sucesso”, afirma. 

Além de ser um bom treino para escritores, a possibilidade de utilizar algo já existente para compor a história é outro fator que contribui para a produção dessas histórias e, também, para o sucesso delas. Afinal, é mais fácil alcançar o público com um elemento que já tenha fãs cativos. No caso de Todd, eles não faltavam, vez que a banda One Direction era um grande fenômeno da música na época. 

Mas o êxito dessas histórias não se resume apenas ao fato de trazer figuras ou ambientes já conhecidos. Para a escritora Olívia Pilar, mestranda em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o sucesso dessas obras também é uma forma de validar as produções feitas por fãs. “Isso é uma prova de que fanfic é uma forma de contar histórias tão válida quanto as mais tradicionais”, avalia. 

Importância

Outra prova da relevância dessas produções são os próprios fãs angariados por elas, que passam a acompanhar toda a trajetória da obra até outras mídias. Caso da professora Isaura Nunes. Ela conta que começou a ler a história em 2014, ainda quando era uma fanfic. “O que mais me chamou a atenção na história foi o conflito interno que a personagem principal teve ao se ver apaixonada por um garoto completamente diferente dela”, lembra.

Com uma relação tão antiga com a história de Todd, ela confessa que acompanhar todos os rumos tomados por “After” foi ótima experiência. “Achei incrível quando vi que tudo estava virando livro. No início achei que eles não chegariam no Brasil, mas chegaram e amei lê-los, porque gosto da coisa física”, diz ela, que conheceu a autora em 2015, na Bienal do Rio de Janeiro. “Passei mais de 5 horas na fila para conhecê-la e ela foi uma fofa com cada fã que estava ali”, relembra.

Agora, à espera da estreia do filme, Isaura diz que a ansiedade é menor. “Antes havia muita expectativa em relação aos atores”, afirma. 

Para a estudante Mayana Soares, de 17 anos, a expectativa é indescritível. “Comprei os ingressos na pré-venda. É um sonho se realizando, depois de acompanhar todo o processo desde a fanfic às telas do cinema. É uma sensação maravilhosa saber que estive presente em todas as etapas”, comemora.

Por tratar de temas como a sexualidade, ‘After’ foi comparada a ‘Cinquenta Tons de Cinza’

Como um território de experimentação e até mesmo de treino para novos escritores, as fanfics não se intimidam ao tratarem de temas q[/TEXTO]ue podem ser considerados tabus para muitas pessoas. O sexo e a descoberta da sexualidade, inclusive, são uma das temáticas que comumente são exploradas em produções de fãs. Talvez seja por isso que a história de Anna Todd venha sendo comparada com “Cinquenta Tons de Cinza”. O trailer do filme, que apostou nas cenas de beijo entre os protagonistas, também contribuiu para isso. 

Mas a verdade é que no enredo a semelhança acontece justamente pela jornada de descoberta sexual dos protagonistas. Mas os detalhes são bem diferentes. Em “Cinquenta Tons”, a autora mergulha no universo do sadomasoquismo; em “After”, Anna Todd acompanha a história de Tessa Young, jovem que vai para a universidade e vê seu mundo mudar quando conhece o rebelde Hardin Scott. 

A pesquisadora Mayara Barros explica que a temática não é algo novo nas produções escritas por fãs. “A sexualidade está na fanfic desde o princípio, ainda mais se você localizar esse começo com as fanzines (como eram chamadas as publicações feitas por fãs) de Jornada nas Estrelas, que retratavam relações homossexuais entre Kirk e Spock”.
Mayara Barros sublinha ainda que as fanfics sempre foram um espaço para a exploração desses aspectos, principalmente para os fãs que não se viam representados na mídia tradicional. 

Apesar de ser comum, a abordagem de temas sexuais não é uma característica obrigatória das fanfics. “Algumas têm uma característica bem forte com relação a questões sexuais, outras nem tanto. Depende sempre do público que aquela produção tenta buscar e até mesmo do tema que será abordado por ela”, afirma a escritora Olívia Pilar. 

Assista ao trailer do filme:

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