Instituição do rap mineiro, Julgamento volta a fazer barulho com ‘Boa Noite’

Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br
08/01/2018 às 19:08.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:39
 (Marco Aurélio Prates/Divulgação)

(Marco Aurélio Prates/Divulgação)

“Começou ali, com a palavra no caderno, ‘Julgamento’. E isso uniu um monte de gente em torno de um objetivo, de uma ideia, e está aí até hoje”. É assim que o rapper Roger Deff abre a música “A Trajetória Continua”, uma das 13 faixas de “Boa Noite”. O disco é o terceiro trabalho de estúdio do Julgamento, banda de rap mais longeva de Minas – que, em 2016, completou 20 anos de caminhada.

“Tem uma música nossa em que eu uso a seguinte frase: ‘A persistência determina a existência’. Isso resume a trajetória do Julgamento. Nossa principal vitória é continuar existindo”, afirma o rimador. “A aceitação do hip-hop em BH é um fenômeno recente. Quando começamos, o rap não era bem compreendido nem na periferia”.

No início de 2000, quando Deff e o DJ Sérgio Giffoni se encontraram, o Julgamento ganhou os contornos que hoje o definem: rap orgânico, com banda, que mistura influências da black music ao rock. “Isso nos levou a outros circuitos, para além do rap”, afirma, ressaltando a importância dos dois primeiros registros da banda,“No Foco do Caos” (2008) e “Muito Além” (2011).

Novo disco

Deff conta que “Boa Noite” é um híbrido musical dos últimos trabalhos. “O primeiro disco é rap clássico, rimas e beats. E o segundo já é muito orgânico, bem banda. O novo álbum mistura as duas coisas”, afirma. “É um disco com muitas participações, o que reflete esse espírito coletivo do hip-hop”, conta, citando os nomes de B Negão, X (Câmbio Negro), Veronez, Gurila Mangani, Michelle Oliveira, Monge, Dokttor Bhu, Shabê, Tamara Franklin, Kainná Tawá, Ohana e Igor Carpe Diem. 

Outro ponto notório de “Boa Noite” é o caráter de contestação política das letras, visível logo em “Controle”, que abre o álbum com recortes de matérias de telejornais da época do impeachment de Dilma Rousseff. “O nome do disco é uma ironia ao ‘boa noite’ dos telejornais. Um boa noite cínico, já que grande parte da mídia assumiu um lado claro no contexto do golpe”, afirma Deff, que também é jornalista. 

Deff ressalta que o disco trata, sim, de problemas sociais da atualidade – como a corrupção, o racismo e a crescente onda conservadora – mas aponta para novos caminhos. “É importante relatar essas questões, mas também acreditamos que o que nos move não são os problemas, mas a possibilidade da mudança, do novo”, reflete, lembrando a música “Novo Lugar”, que tem participação de Veronez. “É uma música emblemática, porque aponta para outros caminhos, para uma pauta comum, que é o respeito ao semelhante. No fim, a grande mensagem do disco é de esperança”, sublinha.

Lançamento

O público mineiro vai conhecer as músicas de “Boa Noite” no dia 26 de janeiro, quando o Julgamento se apresenta no Teatro Francisco Nunes, gratuitamente, pelo Verão Arte Contemporânea 2018 (VAC). “Com exceção do X e do BNegão, estaremos juntos com todos que participaram do disco”, revela Deff. “O show tem direção musical do Sérgio Pererê e ganhou uma cara de espetáculo, mesmo. Vai ser um momento de celebração”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por