JA.CA inaugura nova casa com lançamento de livros

Hoje em Dia
23/05/2015 às 09:21.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:10
 (Divulgação)

(Divulgação)

Foi no início de 2014, lembra Joana Meniconi, coordenadora executiva do JA.CA. Naquele momento, os nomes por trás do Centro de Arte e Tecnologia – além de Joana, Francisca Caporali e Mateus Mesquita – começaram a pensar em ter uma sede própria, com estrutura que permitisse certa mobilidade. O que era então embrionário se concretiza exatamente neste sábado (23), quando a partir das 16h, a nova sede será inaugurada, na rua Victoria, 886, Jardim Canadá, em evento com entrada franca que contará, ainda, com lançamento de três publicações realizadas pelo próprio centro de artes.   “Quando nos instalamos no Jardim Canadá, em 2010, sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, iríamos sofrer com o problema da especulação imobiliária”, rememora Joana. No fim de 2012, venceu o contrato de aluguel do primeiro galpão alugado pelo centro de artes. E o proprietário resolveu quadruplicar o valor pedido. “Ali ficou evidente que, para manter o centro, precisávamos buscar alternativas”.    Mobilidade   Joana lembra que o bairro, além de residências e comércio, possui zonas industriais (pequenas e médias empresas) com saída para a BR 040, o que incentivou a prática do aluguel de lotes para terceiros como área de estacionamento de caminhões e de armazenagem de maquinários. “Foi ai que começamos a pensar: ‘e se a gente alugasse um lote em vez de um galpão e alocasse ali estruturas físicas que pudessem ser transportadas para outro local depois?’”.    A ideia agradou aos três associados. “Vimos, ali, a possibilidade de aprofundar as pesquisas de técnicas de reaproveitamento de resíduos em projetos construtivos, de interface da arte com arquitetura e design, de relação das práticas artísticas com a comunidade do entorno e de sustentabilidade de uma iniciativa independente”.    À época, o JA.CA recebia, como residente, o artista e arquiteto Alejandro Haiek (Venezuela), que havia executado projetos de construção de um espaço cultural com containers. Outras ideias até atravessaram o caminho dos criadores. Mas a opção por essa nova forma de construção (aliás, alvo de matéria do Hoje em Dia no último dia 20) acabou escolhida.   Doações e pesquisas   Em outubro do ano passado, o JA.CA fechou contrato de aluguel (quatro anos) de dois lotes. Junto a empresas do bairro, o centro obteve a doação de dois containers de obras, pisos, mármores e madeiras de paletts. Com recursos financeiros gerados pela prestação de serviços e outros oriundos dos próprios coordenadores, quatro containers marítimos também foram adquiridos.    “O projeto construtivo tem sido desenvolvido a partir de pesquisas e das necessidades que elencamos como prioritárias à medida que vamos ocupando o espaço”, explica Joana.   Confira, a seguir, a íntegra da entrevista da coordenadora Joana Meniconi ao Hoje em Dia:   Poderiam descrever o desafio de transformar os containers em sede? A crise econômica vigente influenciou o curso da iniciativa?   Somos uma organização sem fins lucrativos que se dedica à arte contemporânea e sua interface com a vida cotidiana. Para uma ONG, a crise econômica pouco influencia, pois vivemos com poucos recursos financeiros e enfrentamos dificuldades por todo o tempo. É isso que faz com que a gente busque a redução de custos e soluções criativas para driblar esses contratempos. No caso do nossa nova sede, o que impulsionou o projeto de criar um espaço com estruturas de containers foi o intenso e recente processo de ocupação urbana do bairro.    Quando nos instalamos no Jardim Canadá em 2010 sabíamos que mais cedo ou mais tarde iríamos sofrer com o problema da especulação imobiliária. A dinâmica da ocupação urbana do bairro e sua localização - considerada estratégica no vetor sul de expansão da Grande BH - indicavam que a crescente valorização dos imóveis no bairro iria continuar. No fim de 2012, venceu o contrato de aluguel do primeiro galpão que alugamos; a avenida onde se localizava havia sido asfaltada durante nossa estadia lá, facilitando o acesso pela rodovia e talvez por causa disso o proprietário achou que era o caso de quadriplicar o valor do aluguel. Ali, ficou evidente que para manter o centro precisávamos buscar alternativas que barateassem os custos fixos do JA.CA.    Muita gente comprou terreno no Jardim Canadá como investimento e fica esperando o melhor momento para vendê-lo e colher os rendimentos com a valorização da área. O bairro, além de residências e comércio, possui zonas industriais (pequenas e médias empresas) com saída para a BR 040, o que incentivou a prática do aluguel de lotes para terceiros como área de estacionamento de caminhões e de armazenagem de maquinários. Foi ai que começamos a pensar: "e se a gente alugasse um lote em vez de um galpão e alocasse ali estruturas físicas que pudessem ser transportadas para outro local depois?".    A ideia agradou aos três associados que estão à frente da coordenação do JA.CA, pois abria frentes de trabalho relacionadas às pesquisas desenvolvidos pelo centro e às trajetórias profissionais da equipe. Vimos ali a possibilidade de aprofundar as pesquisas de técnicas de reaproveitamento de resíduos em projetos construtivos, de interface da arte com arquitetura e design, de relação das práticas artísticas com a comunidade do entorno e de sustentabilidade de uma iniciativa independente.    Alguma outra dificuldade a ser listada, ao longo do processo de execução?   No começo de 2014, começamos a pensar no projeto de construir uma sede própria com uma estrutura que permitisse certa mobilidade, que pudesse ser transportada para outros terrenos. Naquele momento, recebíamos como residente o artista e arquiteto Alejandro Haiek (Venezuela), que havia executado projetos de construção de um espaço cultural com containers. Junto com ele, chegamos a pensar em estruturas móveis que pudessem complementar e conectar containers e que estivessem mais relacionadas ao contexto local. Instigados pelo olhar de um residente estrangeiro, que se espantou com a quantidade de caminhões cegonha que passava diariamente na BR, chegamos a pensar em utilizar uma dessas estruturas na construção. Porém ao avançar nos estudos de viabilidade do primeiro projeto, notamos que para utilizar a cegonha seria necessário ter uma área construtiva de três lotes, o que iria aumentar os custos fixos com aluguel e as despesas com a construção. Por isso, nesse momento, voltamos à proposta de começar com um projeto que tivesse foco a adaptação dos containers e o reaproveitamento de resíduos.    Em outubro de 2014, fechamos o contrato de aluguel de dois lotes no Jardim Canadá, em uma área residencial, bem próxima aos novos prédios da escola e do ginásio municipais. Fizemos um estudo preliminar dos custos necessários para instalarmos ali os usos básicos do centro – marcenaria, dormitórios, banheiro, cozinha -, avaliamos aquilo que poderia ser retirado no final do contrato e reaproveitado em um novo local e aquilo que ficaria no terreno e, com isso, fechamos um contrato de quatro anos.    Com empresas do bairro conseguimos a doação de dois containers de obras, pisos, mármores e madeiras de paletts. Com recursos financeiros gerados pela prestação de serviços em produção e montagem de exposições e com empréstimos dos três coordenadores preparamos o terreno, a parte hidráulica e elétrica, estrutura de serralheria e cobertura da marcenaria, pisos de concreto para área comum e, com receitas geradas por prestações de serviço em produção e montagem de exposições e com recursos pessoais emprestados por nós coordenadores, compramos mais quatro containers marítimos.       A ideia foi inspirada em algum projeto já aplicado em outra parte do mundo?   A utilização e adaptação de containers em moradias, lojas e espaços públicos e culturais é uma prática comum no estrangeiro há algum tempo. Aqui no Brasil, já tem empresa que fabrica e aluga containers para obras começando a pensar nisso também. A diferença é que aqui ainda tem pouca empresa ou mão de obra com experiência nisso, também circula pouca informação técnica. As principais publicações de referência sobre o assunto não estão traduzidas para português ou sequer são comercializadas no Brasil. Nosso projeto parte desses exemplos, mas não se inspira em uma referência específica. O projeto construtivo tem sido desenvolvido a partir de pesquisas e das necessidades que percebemos e elencamos como sendo prioritárias à medida que vamos ocupando o espaço.    O projeto da nova sede ainda está em processo e deve ficar assim até o final do nosso contrato de aluguel. No momento, além da estrutura base da marcenaria, temos dois containers prontos – um que foi adaptado em dois dormitórios e outro com cozinha e banheiros. A próxima etapa deve envolver a cobertura do espaço de convivência e da cozinha, que irá conectar dois containers, e a adaptação do container da biblioteca. Os três containers servirão como almoxarifado e apoio da marcenaria, ateliê coletivo, mais um dormitório e escritório.    Qual a programação do JA.CA para este ano?   Entre 15 de junho e 15 de agosto faremos o segundo ciclo de residências para uso e circulação do Dispositivo Móvel, projeto patrocinado pelo Rumos Itaú Cultural. No meio do ano, pelo patrocínio da Petrobras via Lei Estadual de Incentivo à Cultura, abriremos um novo edital para seleção de 4 projetos residentes, organizados em dois ciclos – um primeiro a ser realizado de outubro a dezembro e outro de janeiro a março de 2016.   Ainda sem cronograma definido, mas iniciando-se no segundo semestre, via Fundo Municipal de Cultura, faremos um projeto envolvendo coletivos de Belo Horizonte, oficinas e a circulação do Kombi / Dispositivo Móvel do JA.CA em centros culturais da rede municipal.     Atualizada às 11h50

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por