José Miguel Wisnik analisa a presença da mineração nos escritos de Drummond

Jéssica Malta
jcouto@hojeemdia.com.br
25/07/2018 às 16:15.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:35
 (Renato Mangolin/divulgação)

(Renato Mangolin/divulgação)

Foi da visão de uma cratera que o músico, compositor e ensaísta paulista José Miguel Wisnik teve o vislumbre daquilo que o guiaria em sua nova obra, “Maquinação do Mundo – Drummond e a Mineração”, que ele lança neste sábado em Belo Horizonte. 

A cratera, que poderia ser um sinal qualquer da exploração do minério de ferro em uma cidade brasileira, era ainda mais significativa: ali ficava o Pico do Cauê, ponto itabirano recorrente na memória e na obra de Carlos Drummond de Andrade. Seu formato atual era um retrato importante daquilo que o poeta mineiro denunciava há décadas. “Ele presenciou a partir dos anos 1940, a ação das mineradoras em Itabira e, nessa época, ele escreveu o poema ‘Máquina do Mundo’. Nos anos 1950, ele tentou fazer uma campanha para mostrar como a cidade era prejudicada e como não recebia um retorno correspondente à riqueza que ele gerava, mas não conseguiu resultados com isso”, conta Wisnik. 

Embora em alguns momentos Drummond tenha ido direto ao ponto em seus escritos, em muitos outros o tema poderia não ser tão evidente. “A mineração está presente na obra dele de uma maneira surda. Ela está ali, mas você não está vendo ou ouvindo. É uma coisa que está latente” observa. 

Considerando a exploração do minério como temática de partida para a análise, Wisnik colocou em cena uma ótica ainda pouco explorada na crítica literária de Drummond. “Pesquisei a história da mineração e isso trouxe à tona muitas coisas importantes para o entendimento de sua obra, como o próprio fato de Itabira não ser uma cidadezinha qualquer, mas sim um lugar que desde a década de 1910 estava no centro de uma disputa nacional, envolvendo um mercado mundial. O mundo estava ali e a cidade se articulava com ele”, afirma Wisnik, que destaca que presença constante da palavra “mundo” nos poemas de Drummond eram um símbolo desse contexto. 

Outra questão que a obra traz à tona é a relação do poeta com sua terra natal. Embora Drummond tenha sido interpretado por muitas vezes como alguém que não tinha apreço à sua cidade, Wisnik crê no contrário. “Poucas vezes um poeta deu tanta importância a sua terra de origem como ele. Drummond tem uma relação forte com a cidade, mas ao mesmo tempo um trauma que está ligado a ação da mineração em Itabira e uma quase que impossibilidade de suportar ver essa realidade ao vivo”, acredita. 

Contemporâneo

Embora retorne aos escritos do poeta, que datam de décadas atrás, há uma atualidade inegável na temática abordada por Wisnik. “Ele escreveu artigos sobre a mineração, suas consequências nos anos 50 e agora isso foi estampado pela catástrofe de Mariana”, argumenta. 

Nessa temática, Wisnik acredita que obra tem a importância de ampliar a consciência sobre a atividade mineradora e seus impactos. “Drummond nos dá uma perspectiva histórica do problema, mas também uma perspectiva poética. O livro defende que a poesia é capaz de vislumbrar. Ele não fala só de Itabira, mas de Minas Gerais e do mundo, já que a questão da devastação do planeta é global”, conclui. 

Serviço: Lançamento do livro “Maquinação do Mundo – Drummond e a Mineração”, sábado, às 11h, na Livraria Scriptum (Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi)

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