(Facebook/Reprodução)
Quando o projeto do espetáculo "Jumbo - Eu Visito a Tua Ausência" surgiu, eram sete atrizes recém-saídas da escola (que cursaram juntas) e unidas pelo desejo de fazer teatro, em vez de esperar passivamente que alguém as descobrisse. "Partimos da busca por um tema que fosse potencializado pelo fato de serem sete mulheres em cena. Já imaginávamos que visitas a presos poderiam ser uma possibilidade, além de abrir caminho para uma experiência diferenciada para o espectador", diz Cilene Guedes. Batido o martelo, veio o espetáculo, cuja dramaturgia é assinada pela própria integrante da companhia carioca, que leva o singular nome Baú da Baronesa. Vencedora do Prêmio Funarte Myriam Muniz, a montagem chega agora ao CCBB BH, onde cumpre temporada até dia 14. A sinopse é instigante: "No palco sete mulheres visitam internos do sistema penitenciário. Mas, em lugar do preso, há apenas o olhar do espectador. A ele os conflitos apresentam-se e evoluem a partir de um diálogo em que apenas uma das partes é audível – a da visitante". Segundo Cilene, o embrião da ideia poderia ser localizado em sua infância. "Quando criança, uma pessoa que trabalhou durante muitos anos na minha casa era mãe de um presidiário. Lembro que o sofrimento da mãe pelo filho preso e as tentativas frustradas de regeneração me impressionavam muito. Mas só me lembrei disso há bem pouco tempo. O fato é que essas histórias cruzam nossos caminhos a todo momento. Quando a peça estava na quarta temporada no Rio, descobri que uma pessoa que trabalhou na minha casa há pouco tempo e com quem ainda tenho muita amizade é irmã de um presidiário. Fiquei surpresa de não saber antes. Ao mesmo tempo, o Jumbo já havia me ensinado que isso não deve ser um estigma que mulher nenhuma carregue na testa, nem que queira esconder". Durante um ano, toda a companhia empreendeu uma ampla pesquisa. "Vimos documentários, lemos livros (acadêmicos e jornalísticos), garimpamos pesquisas de cunho científico e, sim, tivemos longas e inesquecíveis conversas com mulheres ligadas a presos e com ex-detentos. Por duas vezes, estivemos na fila que se forma na madrugada de domingo para as visitas aos presidiários no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, no Rio de Janeiro. Observamos, conversamos, registramos e nos deixamos impactar por aquelas histórias e pela peculiaridade daquele ambiente. E tentamos trazer esse impacto para a peça", situa ela. Cilene diz que, durante a pesquisa, ficou bem mais evidente para ela que pode não haver pena de morte oficial no Brasil, mas, além das execuções fardadas ou dos julgamentos do tráfico (que não são tema da peça), dentro do sistema prisional (e isso vale para homens e mulheres), a privação de liberdade - a pena oficial - está longe de ser o único castigo imposto aos presos. "A sociedade - talvez exaurida pela violência, talvez apenas míope - não acha estranho que, além de privado de liberdade, o preso seja rotineiramente mal tratado, torturado, coma comida apodrecida, durma em ambientes infectos..." É, prossegue ela, como se isso fosse mesmo parte da pena. "Se é, voltamos aos tempos das Ordenações Filipinas, como lembra um livro que lemos durante a pesquisa. Outra coisa é a pena que a família cumpre por tabela. As revistas humilhantes, as filas exaustivas, as más condições dos locais de visita, a eventual truculência de alguns agentes prisionais, o preconceito do lado de fora... Todas são penas que a família sofre, sem ter cometido qualquer crime", indigna-se ela, que, no espetáculo, interpreta Rebeca, mãe zelosa de um dependente químico que tornou-se traficante. "Jumbo - Eu visito a tua ausência” Duração: 100 minutos / Classificação indicativa: 18 anos Datas e horários: de 11 a 14 de setembro - sexta, sábado, domingo e segunda às 20h Local:Teatro II – CCBB BH - Praça da Liberdade, 450 – Funcionários - Belo Horizonte (MG) - Capacidade: 264 lugares Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia) Venda online: www.ingressorapido.com.br