Mexer com mito é sempre perigoso. O aviso foi dado assim que a produtora mineira Vania Catani anunciou nas redes sociais, na semana passada, a compra dos direitos de adaptação do livro “A Primavera do Dragão – A Juventude de Glauber Rocha”, escrito por Nelson Motta.

Ela não nega o caráter polêmico da publicação, que se debruça sobre os anos que antecederam o surgimento do criador de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe”, dois dos filmes mais importantes da cinematografia brasileira. Mas garante que cautela e paciência não faltarão.

O grande trunfo de Vania, produtora de obras premiadas como “O Palhaço” e “A Festa da Menina Morta”, é o sinal verde dado pela família de Glauber Rocha, muito criteriosa em relação a tudo o que envolve um dos fundadores do movimento Cinema Novo.

“Estou muito honrada de terem confiado em mim. É uma família que busca preservar a memória dele, e essa autorização para começar a desenvolver o projeto é muito boa”, observa a produtora nascida em Montes Claros, que hoje comanda a Bananeira Filmes.

Na época do lançamento, em 2011, o livro foi chamado de “mentirografia” por amigos do cineasta baiano, falecido há 33 anos. O poeta e historiador Fernando da Rocha Peres definiu o livro, em carta à editora Objetiva, como irresponsável, devido ao relato de situações que seriam inverídicas.

“Isso não invalida (a realização do filme), pois me diverti muito lendo o livro e imediatamente pensei em adaptá-lo. Glauber é apresentado de uma maneira fascinante, como alguém sexy, genial, instigante, carismático e agitador. Aquele furor que conhecemos”, defende Vania.

A produtora enxerga no projeto a possibilidade de se voltar para uma faixa etária com quem o cinema nacional não dialoga muito. “Ironicamente, é a que mais consome cinema. O filme será uma forma de apresentá-lo à nova geração”, salienta.

Envolvida na pré-produção do novo longa de Selton Mello, parceiro dela em “Feliz Natal” e “O Palhaço”, Vania ainda não decidiu quem fará o roteiro e assinará a direção, mas pretende convidar jovens. “Pessoas que o Glauber, lá da eternidade, não ficará puto comigo”.

Conhecedora da filmografia do baiano, ela não espera fazer de “A Primavera do Dragão” uma obra “glauberiana”. “Minha preocupação é a de que tenha algum frescor do personagem. Para isso, acho que seria bom um diretor jovem, e hoje temos muitos atuando no Brasil. Antes, eles estreavam em longa aos 40 anos”.

Mal ela noticiou o projeto no Facebook, vários diretores se prontificaram a realizar a tarefa. “Recebi todas (as propostas) com alegria, mas não vou decidir nada por enquanto. Na frente dele estão vários filmes em finalização ou a serem feitos”, assinala.
 

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