LCD Soundsystem, banda de James Murphy, volta à cena com “American Dream”

Thiago Pereira
talberto@hojeemdia.com.br
06/10/2017 às 18:04.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:06
 (Divulgação )

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Ops, he did it again! Perdão por começar o texto com uma expressão tão afetada, e ainda por cima, fora da nossa língua pátria. É porque ela define com precisão o gesto que situa James Murphy como uma das melhores mentes do mundo musical contemporâneo: reciclagem criativa.

Assim como seus trabalhos anteriores, Murphy é um dos sujeitos que sonorizam nossa época. Como ele faz isso? Recuperando aspectos típicos de épocas passadas! O conceito crítico de "Retromania", do britânico Simon Reynolds, sobre uma obsessão pouco saudável que cultivamos com o passado, encontra no LCD sua corporificação mais positiva.

À frente do LCD Soundsystem, a ética de trabalho do nova-iorquino poderia ser sintetizada no seguinte: “Eu tenho uma coleção de discos mais bacana que a dos outros. Ah, e também faço melhor uso dela do que a concorrência”. A audição de “American Dream” apenas prova que ele meio que está certo e pode tirar sim essa onda.

Porque Murphy gosta de trazer à tona coisas que apenas pouquíssimos nostálgicos sentem saudades; coisas que foram bastante marginalizadas quando surgiram: o Suicide que inspira a faixa de abertura “Oh Baby”; o Human League dos tempos experimentais, o synth pop de "Soft Cell", New Order em “Tonite”, o Talking Heads cabeçudo (portanto menos pop) da fase Brian Eno, em “Change Yr Mind”. E, na maior parte do álbum; o próprio Eno, como produtor e músico revolucionário dos anos 1970, especialmente na introdução de “Emotional Haircut”.

Mas, para variar – esperto e inteligente que é – Murphy já sacou que é quando consegue concatenar lindos ganchos pop, melodias que aquecem os beats mais robóticos e teutônicos, consegue ganhar de vez quem o escuta. Foi assim com os hinos anteriores “Daft Punk Is Playng At My House”, “All My Friends” e “Someone Great”, é assim agora com as lindas “Call The Police” e “Emotional Haircut”. Como apontado antes, todas faixas são devotas de algo já feito (já citei David Bowie?), mas o resultado, longe de soar passadista, chega como algo que devemos estar escutando exatamente agora. Assim, “American Dream” é mais um exemplar bem sucedido desta lei que Murphy criou para si, mas que acaba nos orientando como ouvintes também. Sorte nossa.

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