Leandro Gabriel abre a exposição “Embarcações”, nesta quarta, no ViaShopping

Elemara Duarte - Hoje em Dia
26/02/2014 às 07:28.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:17
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

Embaixo de dois viadutos do Barreiro, nasce a obra do escultor Leandro Gabriel. Sob ele, em um teste para a nova galeria que integrará o espaço, algumas peças que compõe a exposição “Embarcações”, que poderá ser visitada a partir desta quarta-feira (26), até dia 16 de março, no ViaShopping, no mesmo bairro.

No “Viaduto das Artes”, como o lugar é chamado, Leandro Gabriel mantém ateliê ao lado do trânsito intenso e do vai-e-vem dos operários da siderúrgica próxima. Em dois meses, além das atividades culturais de colegas dele, o espaço contará com a sala para exposições.

As obras de Leandro Gabriel estão espalhadas em espaços públicos de Belo Horizonte. São retalhos de ferro soldados lado a lado, formando uma superfície modelada em formatos de árvores, bichos, formas e mais formas, quase sempre, expostas ao ar livre. Elas estão na “curva” do Ponteio, na UFMG, em shoppings, no ninho do artista – em várias praças do Barreiro – e em outros estados e fora do Brasil.

As peças da nova exposição foram inspiradas em estudos da cultura de Veneza, na Itália, e do Vale do Jequitinhonha. Assim, o barco de Leandro Gabriel vai singrando asfaltos e viadutos. “Quero que minhas obras fiquem onde qualquer pessoa pode ter acesso”, planeja.

Formado na Escola Guignard, ele lembra que queria ser pintor. Mas, as sucatas que encontrava em caçambas, quando voltava da faculdade, e o trabalho em uma oficina mecânica, onde o chefe ficava de rabo de olho vendo ele usar a máquina de solda, lhe empurraram para o que ele é hoje.

Livro celebrará bodas do artista

Da oficina mecânica, incluindo a passagem pela faculdade, até hoje, lá se vão quase 25 anos. As bodas de prata de Leandro Gabriel na arte devem ser lembradas a partir deste ano. Para isso, ele prepara livro com retrospectiva das obras: seu patchwork em ferro e imaginação.

“Meu ex-chefe sempre vem aqui. Ele vê a sucata empilhada e diz: ‘Como ele ganha dinheiro com isso?’”, reproduz, sorrindo. Na Auto Mecânica Silva, no mesmo bairro, o ex-chefe Normandes Rodrigues, 50 anos, vê com orgulho a trajetória do antigo funcionário.

“Ele arriscou e deu certo. E não saiu do Barreiro. Era novinho quando trabalhou comigo”, diz Rodrigues, já programando outra ida ao espaço cultural com outros companheiros de oficinas da região. Eles vão ajudar Leandro Gabriel na restauração de uma empilhadeira velha. A máquina vai para deslocar as peças do artista. Churrasco de confraternização, na sequência, é de lei.

Assim que se faz

Para soldar é preciso se proteger. Roupas, luvas e calçados em couro. Capacete com visor para que a luz que sai do eletrodo de solda não queime as vistas. Claro que Leandro já se queimou, nos dois sentidos.

“Acontece de ter uma fresta descoberta atrás do pescoço, cai uma gota de solda quente justo ali, e vai descendo pelas costas queimando... Ai!”, reproduz.

Com uma guilhotina, o artista corta um retalho do metal com a facilidade com que qualquer um de nós cortaria um tecido. Com uma marreta pequena, o encurva. O processo com força bruta é o mesmo, seja para as peças grandes ou pequenas. “O que varia é o tamanho e o peso da marreta”, ensina.

E a vareta derrete... São três pontos de solda entre cada retalho para prender na linha certa dos lados de cada plaquinha. Depois, uma linha contínua de solda une tudo.

Com a água da chuva, um choro de ferrugem escorre das peças sobre a terra, fazendo com que a arte entre para o ciclo de renovação. Problemas? “Quanto mais enferrujar melhor, pois volta ao estado natural”, explica o artista.

“Antigamente, era fácil achar ferro nas ruas. Não era moda reciclar”, diz Leandro, hoje, aos 44 anos. O quilo da matéria prima que ele usa é vendido de R$ 1 a R$ 2. Com o material soldado, ele criou sua assinatura nas artes plásticas.

De Sacolão à galeria

No pequeno galpão sob o viaduto que já foi sacolão e, por quase quatro anos, “point de crackeiros”, tem gramado, fonte, laguinho com carpas e é onde garis podem tirar um cochilo depois do almoço.

Lá dentro, o espesso teto em concreto deixa o ambiente incrivelmente silencioso e fresco.eandro Gabriel ouve música clássica no rádio. Arcos construídos em 1977 sustentam a pista. “Viaduto Engenheiro Andrade Pinto, construído no governo Geisel, no 80º aniversário de Belo Horizonte”, informa uma placa externa.

O Viaduto das Artes ainda oferece oficina de contação de histórias com a educadora Sandra Lane e de música, com o professor Vilmar de Oliveira. O mesmo grupo de artistas também visita escolas públicas na região para organizar as oficinas por meio do projeto “Escultórias”.

Ideia foi premiada em concurso

O projeto do Viaduto das Artes, no Barreiro “de Baixo” foi premiado por meio do Concurso Público Nacional de Projetos de Arquitetura para Requalificação Urbana de Baixios de Viadutos, ao lado de 62 propostas de diversos lugares do Brasil. O projeto vencedor de cada viaduto da capital recebeu o prêmio de R$ 8 mil.

A proposta visa potencializar as atividades de arte, cultura a lazer do local, oferecendo espaços flexíveis que possam ser utilizados e visitados por um público diversificado.

Pelo projeto, parte já concluído, o local terá área de exposição e café, ateliê do artista, biblioteca, salas multiuso, sede de varrição (apoio aos varredores de rua), banheiros, pátio, jardim interno e uma grande praça de convivência e para prática esportiva.

A área construída aguarda patrocínio para instalação dos vidros. Em breve, a decoração do “Viaduto das Artes” será completada por grafites de artistas locais. 

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