A mamma África em todos os sentidos

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
17/06/2012 às 17:18.
Atualizado em 21/11/2021 às 22:55
 (Haroldo Castro/Divulgação)

(Haroldo Castro/Divulgação)

Góbi, Nairóbi, Lalibela, Zâmbia, Zanzibar são alguns dos nomes incomuns de lugares não menos exóticos por onde o fotógrafo e jornalista Haroldo Castro passou e sobre os quais descreve no livro “Luzes da África” (Editora Civilização Brasileira). A publicação chega às livrarias na tentativa de mostrar o lado positivo de um continente historicamente e dolorosamente marcado por guerras civis, epidemias e ditaduras. Acompanhado do filho Mikael Castro, também fotógrafo, Haroldo percorreu 40 mil quilômetros onde conheceu 18 países, durante nove meses de viagem. “Luzes da África” traz ainda 130 fotos e 19 mapas e tem prefácio assinado pelo cantor e compositor Gilberto Gil.


Os primeiros e mais marcantes aspectos identificados pelo autor no continente foram a boa hospitalidade e a alegria, um dos traços em comum dos africanos com os brasileiros. “Essas características se mostravam principalmente quando os africanos souberam que estávamos em busca de fatos positivos”. Na África do Sul, por exemplo, onde estava previsto que os viajantes permanecessem por uma semana, a viagem foi aumentada para seis semanas. “Ficamos na casa de um amigo meu, sem pagar nada. Claro que dávamos uma força nas compras no supermercado”, indica.


A alegria aparentemente sem porquê, acredita Haroldo, é um misto “de felicidade em estar vivo e de jovialidade”. “Não encontrei isso na Europa nem nos Estados Unidos, onde já morei”, compara. O autor, que é filho de mãe francesa e pai brasileiro, nasceu na Itália e já documentou mais de 160 países.


O continente é marcado por contrastes vão desde a oferta de sistemas de telefonia celular de primeira linha até a presença de tribos nômades. A exceção é em Angola e na Etiópia, onde os sistemas de telecomunicações estão em processo de transição. “Nos demais países usávamos iPhone normalmente”, lembra.


Essas realidades foram testemunhadas em locais como o vale do Rio Omo, no Sul da Etiópia. “Terra de meia dúzia de etnias que ainda vivem um cotidiano baseado em regras tradicionais, fora da cultura cristã ortodoxa e muçulmana. Os pastores escolheram uma vida semi-nômade. Outras tribos se tornaram


A região abriga um dos últimos povos nativos africanos com pouca influência da cultura ocidental. “Para ser nômade é preciso um espaço relativamente grande para percorrer e deixar os animais pastar. A realidade mostra que essas antigas tribos passam por áreas sem estradas e sem torres de telefonia”. Haroldo diz que não identificou neles a ânsia de ter uma casa e uma vida baseada nos sedutores hábitos capitalistas. “o máximo que querem é um celular ou alguns utensílios de cozinha”.


Na África banhada pelo Oceano Índico, além da água “mais morna” – diferentemente do frio Atlântico – Haroldo Castro encontrou países com influência vinda da península arábica e da Índia. Zanzibar é um exemplo. Mesmo sem luz elétrica, revela uma das anfitriãs dos viajantes, “o ambiente de Zanzibar é fascinante”.


O sonoro nome do arquipélago tornou-se popular no Brasil especialmente em 1980, quando serviu de inspiração para uma das faixas do disco “Transe Total”, da banda A Cor do Som, que registrou a maior vendagem da carreira do grupo. Mas poucas pessoas têm ideia das tais “cores” de Zanzibar.


A região chegou a ser uma das mais importantes do continente por conta do cultivo de especiarias como noz-moscada, pimenta, canela e os cravos. “Só conhecia o fruto seco, pretinho, parecido com um pequeno prego. Não sabia que o fruto maduro era lilás”, revela Haroldo, no relato do livro ao ver um galho com os cravinhos recém colhidos. Os cultivos deixaram marcas saborosas na culinária local.


O autor descreve também as cores e os sabores de frutas típicas de Zanzibar como é o caso do “mangostão”. “Retiro dois gomos e os deixo desmancharem na boca. O sabor é muito delicado. Parece uma mistura de pêssego branco com uva Itália madura sem casca, ligeiramente adocicada por uma pitada de baunilha selvagem e perfumada por uma flor”, descreve.


No final da viagem, Haroldo já tinha uma parcial da estatística que revela a riqueza cultural e natural do continente. Nos 40 mil quilômetros, pai e filho passaram 89 noites em uma barraca instalada no teto do veículo que guiavam. Outras 51 noites foram dormidas em pousadas, como convidados, 38, em casa dos “hospitaleiros” amigos e 28 em hotéis. Ao todo, foram feitas 77 mil fotos. Durante os nove meses, foram avistadas 68 espécies de mamíferos e visitados 27 parques e reservas. Por essas e outras que o autor, no final das mais de 500 páginas de relatos convida: “Que o livro rasgue seus medos e convide você a cruzar o Atlântico sul”.

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