A vida de Michael, pelo filtro de seu assistente pessoal

Miguel Anunciação - Do Hoje em Dia
02/12/2012 às 11:10.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:59
 (AFP/Divulgação)

(AFP/Divulgação)

Michael Jackson talvez tenha sido o artista mais noticiado nos últimos 30 anos. O que mais vendeu um mesmo disco, “Thriller” – e por isso foi eleito “Rei do Pop”. Dependente de medicamentos, morreu em junho de 2009, prestes a completar 51 anos, zelou por uma privacidade impermeável, mas sofreu de absurda vulnerabilidade. No livro “Meu Amigo Michael”, Frank Cascio aproxima o ídolo das curiosidades que o cercaram. Mas muitas vezes soa contraditório.

Frank foi assistente pessoal de Jacko, produziu para o mito um show e um documentário de TV. Passaram anos muito próximos, quase íntimos, dividindo o mesmo quarto. Parte considerável desta relação, supostamente profunda, vem à tona neste volume da Intrínseca, notável por publicar autoajuda e desejar estar na lista de mais vendidos.


A mídia feroz

Pode parecer mexerico reportar aqui o que o livro se autoriza a detalhar. Porém, em termos artísticos, o autor não vai muito além de salientar o grande vendedor de discos (o que não é exatamente um dom sensível) e a transformação da criatura gentil, fora do palco, e o tipo incandescente, sobre ele. O mais é a vida pedestre de Michael, a surpreendente revelação do quanto o abalava a feroz perseguição da imprensa, como se debruçava sobre suas tantas excentricidades.

Como um Midas às avessas, Michael tornou a pedofilia uma ameaça ao cotidiano das famílias. A suspeição de abuso sexual de crianças foi apenas um dos escândalos que o envolveram a partir de 1993. Nunca mais foi o mesmo: a mina inesgotável de dinheiro e bons negócios passou a minguar. Responsável por controlar a derrocada durante um período, Frank dá seu parecer sobre os maus tempos.

 

Ás vias de fato

Rejeita que Michael bolinasse crianças, admite que não teve contatos íntimos com as duas esposas, mas levaria algumas fãs às vias de fato. Reside aí algum paradoxo: evidente que MJ nunca foi simplório. A irmã, La Toya, confessou suas desconfianças à mídia. O fato é que a amizade com Frank também acabou trombada pelas intempéries. Pela hipocondria, pela paranoia que Michael foi adquirindo, desconfiado de tudo e de todos.

O próprio Frank não infunde lá muita confiança. Precisamos saber com quem ele jantou, bebeu e dormiu em Florença, se mais não consegue dizer do artista ou algo de novo e interessante sobre o doloroso equilíbrio entre a criança acuada e o astro de tanto impacto popular, que nomeou milhões de meninos pelo mundo afora? Ainda assim, vale admitir: o livro fisga.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por