Angela-Lago ilumina versos de Carlos Drummond de Andrade

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
16/08/2012 às 10:57.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:30
 (Angela-Lago/Divulgação)

(Angela-Lago/Divulgação)

Carlos Drummond de Andrade volta a ser criança no traço de Angela-Lago. A ilustradora escolheu poemas de várias fases do poeta que fazem referência aos temas da infância e os ilustrou. O resultado é lançado agora pela Companhia das Letrinhas e se chama "Menino Drummond". Já na primeira página do livro, o desenho minimalista de Angela mostra uma longa escada que convida para a bela vista da janela para a lua: "É mais ou menos o que senti. Meu lápis não queria desenhar Drummond por conta da responsabilidade. É uma janela muito alta para mim", define Angela, que mesmo assim, não fugiu do desafio.

"Menino Drummond" é livro para criança. Mas em tese. "Um bom livro para crianças também pode chegar aos adultos", acredita a ilustradora. Angela não conheceu o poeta pessoalmente, apenas por uma carta. "Mandei um livro meu, meus primeiros trabalhos para crianças. Ele respondeu muito amável e generoso. Lembro-me da sensação de gentileza dele". Neste ano são lembrados os 110 anos de nascimento e os 25 anos da morte Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

"Estava diante do projeto que ilumina minha vida inteira. É um poeta que fez a cabeça da minha geração", expõe a ilustradora, hoje, aos 67 anos e com mais de 40 livros publicados. Na seleção, Angela conseguiu pegar pelo menos um poema de cada fase de Drummond - uma boa degustação para os futuros leitores. O escritor mineiro publicou mais de 30 títulos, e a seleção engloba obras lançadas entre 1930 e 1967.

"Consegui cumprir esta seleção com muita dificuldade, pois a obra dele é densa demais para as crianças", avalia. No primeiro texto "Poesia", de "Alguma Poesia" (1930), os últimos versos aparecem como se fossem para resumir - ou prever - a importância da obra de Drummond para a língua portuguesa. "Mas a poesia deste momento/ inunda minha vida inteira". Inunda, emociona e "Menino Drummond" dá sua contribuição para estimular esta empatia mais ainda.
As propostas de desenhos com traços simples e quase monocromáticos têm um porquê. "Deixei para o poema, o lugar do brilho dele, para que o leitor não desviasse o olhar", diz Angela. E bota brilho nisso.

Mas também, bota simplicidade e sentimentos pueris. "Quero que todos os dias do ano/ todos os dias da vida/ de meia em meia hora/ de 5 em 5 minutos/ me digas: Eu te amo./ Ouvindo-te dizer: Eu te amo, creio, no momento, que sou amado./ No momento anterior/ e no seguinte,/ como sabê-lo?", canta Drummond no poema "Quero", em "As Impurezas do Branco" (1973). Que criança nunca teve tais pensamentos?

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