Cinco mulheres, cinco caminhos em obra da portuguesa Lídia Jorge

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
03/11/2012 às 12:37.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:50
 (LEYA/DIVULGAÇÃO)

(LEYA/DIVULGAÇÃO)

A memória é algo tão vivo quanto o presente. Pulsa e faz sentir, mais uma vez, o gosto da alegria ou do sofrimento vividos no passado. “Vivemos mergulhados no fluxo do mesmo tempo” e são essas impressões variadas, vindas de experiências comuns, que a autora portuguesa Lídia Jorge expõe no romance “A Noite das Mulheres Cantoras” (Leya). Nele, cinco mulheres diferentes vivem os anos 1980, em Portugal. Elas estão unidas para fazer alguma diferença na história da música.

O livro conta a história de Gisela Batista, Maria Luísa e Nani Alcides, Madalena Micaia e Solange de Matos. Mas Solange é que narra a trama a partir do seu ponto de vista e memória, que o tempo pode tornar traiçoeira – o que transforma o livro, na verdade, em um romance psicológico.


Similaridades

A característica faz lembrar os densos, mas envolventes textos de Clarice Lispector. Lídia afirma que admira, mas que, para o lançamento, não se inspirou na obra da autora ucraniana, radicada no Brasil.

“Clarice é uma escritora tão intensa e tão excessiva que ninguém pode inspirar-se nela. Ela queima, é como Fernando Pessoa para nós. Temos que ler, admirar e, a seguir, esquecer, para podermos depois, na escrita, sermos nós próprios”, justifica, em entrevista, ao Hoje em Dia.

O que acontece, prossegue, é que existem modos de ser que podem coincidir. “Um dia, disseram-me que tínhamos, em comum, o manejo de um certa feitiçaria feita na sala de jantar, em climas domésticos, escondendo, atrás do mundo anódino, aparições inesperadas. Isso será mesmo assim? Não sei. Talvez um fundo contemplativo animado pelas palavras, ou mesmo um fundo místico, possa explicar alguns traços de semelhança”.


Desafio

As cinco mulheres da trama precisam aprender a lidar umas com as outras e a não deixar que o sonho seja ofuscado pelo mundo da fama. Impossível? Parece que sim. E é exatamente aí que o caminho que as unia começa a desandar. Solange, a narradora, porém, não se deixava seduzir. Envolveu-se com o coreógrafo, apaixonou-se e entregou-se, não deixando que Gisela afundasse sua cabeça, forçando-a a mergulhar. Entre idas e vindas, brigas e disputas de poder, as integrantes já não conseguiam mais ficar juntas e, aos poucos, o sonho da fama foi se esvaindo.

“’Noite das Mulheres Cantoras’ nasce de um desafio que o mundo contemporâneo põe: o fato de vivermos sob o império da transitoriedade, o império de parecer para existir, que faz com que as pessoas vendam a alma e se submetam a todas as torturas e vilanias para serem vistas pelo mundo inteiro durante um minuto que seja, isso me impressiona muito”, aponta.

Em cenários “encantatórios” essas situações se desenvolvem. “Para que isso aconteça sem dor, ficando a pessoa em estado de deslumbramento absoluto, e tudo isso só na perspectiva da fama. Então parti de alguns fatos observados na realidade de hoje, mas recuei até o final dos anos 80, quando a parafernália do império começava, e os pespontos ainda estavam à vista”. 

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