Convidado do 'Sempre um Papo', Lira Neto destrincha a carta-testamento de Getúlio em livro

Pedro Arthur - Hoje em Dia
27/10/2014 às 07:46.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:47
 ( Renato Parada)

( Renato Parada)

Passados 60 anos de sua morte, a sombra de Getúlio Vargas ainda paira. O criador da Petrobras, do BNDES e da CLT, polêmico chefe de Estado, que com um tiro, no Palácio do Catete, em 24 de agosto de 1954, pôs fim à própria vida, deixou uma carta-testamento que ainda hoje é objeto de intensos estudos de interpretação.

Na esteira desse debate está o terceiro volume da trilogia “Getúlio” – “Da Volta pela Consagração Popular ao Suicídio” (Cia. das Letras) – do jornalista Lira Neto, livro que será lançado nesta segunda (27), às 19h30, no auditório do Mater Dei (rua Gonçalves Dias, 2.700, Santo Agostinho), no projeto “Sempre Um Papo. A entrada é franca.

Lira Neto – que pesquisou com extrema acuidade a trajetória e a atuação política de Getúlio – acredita que a carta sugira algumas reflexões. “Getúlio, ao longo de sua vida, escreveu textos particulares, algumas anotações em diários, que anteviam o suicídio como única saída para situações-limite. Então, escreve várias cartas de despedidas, bilhetes suicidas, sempre em situação de derrota vexatória. Ele não aceitava morrer desonrado”.

Em 1954, no auge da crise política pela qual passava o presidente, Getúlio rascunhou um bilhete de despedida anunciando que iria se matar. O estopim foi o atentado sofrido por seu arquirrival, o dono do jornal “Tribuna da Imprensa” e político Carlos Lacerda, na rua Tonelero, em Copacabana. Uma troca de tiros que culminou na morte do major Vaz (guarda-costas de Lacerda) e atingiu o jornalista com um tiro no pé.

“Não é a carta-testamento que a gente conhece. Foi encontrada por um ajudante de ordens, dias antes do fatídico suicídio. Agora, quem deu a redação final à carta-testamento, baseada em anotações feitas à mão por Getúlio, foi seu secretário particular Maciel Filho. Questionado pela família pelo fato de ter datilografado essa carta e não ter avisado a ninguém, Maciel diz que tinha entendido não como uma carta de um suicida, mas como uma de resistência; de alguém que estava disposto a morrer com a arma na mão para enfrentar os possíveis invasores do Palácio – essa foi a interpretação do Maciel. Quando Getúlio se mata, ganha essa dimensão de carta-suicida”, relata Lira Neto.

Para Lira, o suicídio acaba adiando, por dez anos, o golpe militar no país, principalmente por seu impacto junto à população. “Claro. Porque os militares e políticos da União Democrática Nacional (UDN), que estavam exigindo a renúncia de Getúlio, são os mesmos que, em 1964, deram o golpe que derrubou Jango, ‘filho espiritual de Getúlio’. O golpe já estava pronto contra Getúlio que recebeu um ultimato dos generais, brigadeiros e almirantes. Quando ele se mata, esse golpe é abortado pela comoção pública”, enfatiza o autor. 

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