Homenagem: Jorge continua amado no seu centenário

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
10/08/2012 às 11:23.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:21
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Mais vendido, mais famoso, sempre amado. Na comemoração dos 100 anos de nascimento de Jorge Amado, lembrados hoje, o autor continua a ser bem avaliado, especialmente junto a estudiosos da literatura. Nesta semana, Jorge recebe homenagens pelo país e pelo mundo. Na Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho baiano, a programação segue até dia 17 deste mês.

Amado morreu em 6 de agosto de 2001 e deixou 45 livros, traduzidos em quase 50 idiomas. Neste mês, o autor recebe homenagens por todo canto. Até na Finlândia! A obra dele é tema de uma exposição em Helsinque, no Espaço Cultural Sanomat Talo, aberta até dia 19. "Até 1980, Jorge Amado havia vendido 3 milhões de livros na França e 10 milhões na antiga União Soviética. Hoje, ele continua sendo um escritor de forte ligação com o público", indica o professor da UFMG, Eduardo Duarte. O pesquisador concluiu mestrado e doutorado sobre a obra de Jorge e diz que o sucesso se deve à temática do baiano.

"Temas como a postura da mulher ou da violência contra ela, as injustiças sociais. Problemas que ainda persistem", cita. Outros exemplos: em 1933, Jorge denunciou o trabalho escravo, no livro "Cacau"; em "Capitães da Areia" (1937), abordou o problema do menor abandonado.

Foi o "grande romancista moderno", diz a professora de Teoria da Literatura, da mesma universidade, Maria Esther Maciel. "Ele criou uma narrativa de feição realista, e se esmerou na construção de personagens envolventes, sem abrir mão do espírito crítico".

Na Bahia, onde Jorge Amado reina, seu legado na divulgação da cultura local mundo afora é ressaltado, especialmente por escritores independentes, embora a temática utilizada pelo autor receba algumas críticas. Este é o caso das heroínas erotizadas.

"Ele divulgou nossa cultura, nossas raízes, a religiosidade. É uma obra de valor incalculável", comenta o vice-presidente da União Brasileira de Escritores, na Bahia, Roberto Leal.

Leal, porém, aponta o modo como Amado falava sobre a mulher baiana. "Os mais novos podem ter uma ideia deturpada da mulher brasileira da época. Mostra que é muito fogosa, namoradeira. No seriado de TV é o mesmo. Isso, lá fora, pode ter dado a impressão de que aqui há uma facilidade de ter romance com uma mulher. Incomoda a alguns", diz ele.

Sobre a personagem "Gabriela" (1958), Duarte observa: "ela é da mesma época da Garota de Ipanema (1962). Ambas são a imagem da nova mulher que surgiu com a revolução sexual", diz o professor. "A mulher sai do espaço doméstico. A Garota de Ipanema vai rebolando em direção à praia. A outra vai trabalhar, é cozinheira. Além disso, Gabriela não é só objeto sexual, ela tem desejo e exerce esse desejo".

A mais nova leitora de Jorge Amado

"Eu tenho um tesouro: quando nasci, o irmão de minha mãe, meu padrinho, esteve no mesmo dia na casa de Jorge, de quem era amigo, e comentou que sua sobrinha havia nascido. Jorge pegou um exemplar de Gabriela e escreveu a dedicatória: ‘para a minha mais nova leitora". A história contada pela escritora e crítica baiana Gerana Damulakis é como se fosse uma premonição da profissão que escolheria.

Gerana considera a obra de Jorge "atemporal". Nos novos meios literários baianos, diz ela, hoje a temática é mais urbana. Porém, acrescenta, "o interesse de um leitor que adentra, por exemplo, ‘Os Três Mosqueteiros’ ou ‘Orgulho e Preconceito’, será sempre o mesmo e indiferente ao fato de Alexandre Dumas ou Jane Austen terem vivido e escrito em séculos tão distantes". Jorge Amado que o diga, mesmo um século depois de seu nascimento.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por