Só mesmo com muita ousadia – e com o auxílio luxuoso do frade e escritor Frei Betto, do teólogo Leonardo Boff e do filósofo Mario Sergio Cortella – para se reunir, em um só livro, diferentes visões, caminhos e definições acerca da tão sonhada e incompreendida felicidade. Essa foi a proposta da Editora Vozes ao convidar tais arautos do pensamento e publicá-los na obra “Felicidade Foi-se Embora?".

A iniciativa deu certo e o livro conquista elogios de leitores nas redes sociais, apesar de fugir do apelo da autoajuda. Indo muito além, os autores direcionam o leitor por caminhos de questionamentos e de reflexão, sem pretensões de oferecer respostas certas.

O que tanto buscamos

Ninguém faz nada em busca da infelicidade. Este é um princípio defendido por São Tomás de Aquino, e por Frei Betto. Até mesmo quando se pratica o mal, se busca a felicidade. O ser humano quer ser feliz. O que muda, na verdade, é a consciência do que é ser feliz.

É preciso saber separar o que é felicidade do que é alegria, alerta o Frei. Temos que acabar com a ideia de que a felicidade é uma soma de prazeres. “A alegria é algo momentâneo e episódico. Felicidade não”, diz.

Eu diria que a fé ajuda na felicidade na medida em que ela traz tranquilidade diante de algumas circunstancias da vida. Mas conheço pessoas sem fé que são muito felizes, e pessoas com muita fé, com muita religiosidade, e que são sumamente infelizes

O problema maior é: como ser feliz? Para Frei Betto, basta escolher o caminho certo. No entanto, entre o “basta” e a sábia escolha, há um grande desafio: se soltar de amarras sociais.

“Todo o clima ideológico que vivemos incute a ideia de que são mais felizes quem tem fama, poder e riqueza. É preciso ir no caminho da solidariedade, da partilha. Só é feliz quem faz o outro feliz”, afiança.

A visão pode até parecer romântica, mas faz todo sentido. A dificuldade de se alcançar a felicidade depende, justamente, da compreensão que cada indivíduo faz dela. “Quem coloca pra fora, quebra a cara. Quem coloca pra dentro, acaba encontrando-a.

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Em entrevista, Frei Betto fala sobre felicidade e fundamentalismo religioso na política

Política x Religião

Segundo o frade, buscar a felicidade é uma busca inconsciente de Deus, independentemente do credo de cada um. “É uma saudade de futuro. Em outras palavras, uma saudade do Deus que haveremos de encontrar”, No entanto, faz uma ressalva: “Não quero dizer que só é feliz quem crê em Deus. Conheço muita gente que é mais feliz do quem crê.

O meu sentimento é de tristeza. As pessoas que querem tirar a presidente Dilma são pessoas que não têm nenhuma credibilidade moral - Frei Betto, sobre o Processo de Impeachment

Sobre a mistura de política com religião, Frei Betto é categórico. “Fico muito preocupado quando alguém, em vez de se definir como defensor dos direitos humanos, se define através da sua confissão religiosa. Temo que isso seja chocar o ovo da serpente de um futuro fundamentalista na política”, afirma.

O escritor ressalta, ainda, que a política de um país é fundamental para a felicidade de sua nação. “80% da felicidade de toda pessoa depende da política. Não há gesto de caridade mais importante do que uma boa política”.

Se é possível ser feliz na crise? Ao lembrar personalidades emblemáticas, como Luther King, Guevara e Mandela, afirma que todos foram felizes, inclusive ele, preso pela Ditadura Militar em 1964. “A felicidade depende muito do sentido que a gente imprime sobre a própria existência”, conclui.

“Sempre Um Papo” com Frei Betto, Leonardo Boff e Mario Sergio Cortella. Hoje, às 19h30, no Cine Theatro Brasil (Praça Sete, Centro). Os ingressos serão distribuídos na bilheteria a partir das 17h30, mediante a doação de um livro literário, novo ou usado.

Mario Sergio Cortella

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