Sotaques diversos se reúnem em nova edição do Fórum das Letras

Elemara Duarte* - Hoje em Dia
31/10/2014 às 08:30.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:50
 (Elemara Duarte)

(Elemara Duarte)

OURO PRETO – Rua das Flores, 177. O local, no centro histórico da cidade patrimônio, será a primeira casa para escritores refugiados da América do Sul, conforme carta de intenção assinada anteontem, na abertura do 11º Fórum das Letras – evento que segue até domingo com atrações literárias gratuitas. E o primeiro morador deve ser o poeta, novelista e professor universitário Koulsy Lamko, do Chade, país da África saariana que abarca 200 grupos étnicos, motivo causador de vários conflitos.

“Ele está refugiado no México onde já desenvolve um trabalho sobre cultura africana. Está muito interessado em vir para o Brasil, pois aqui há esta presença forte da cultura africana, mas que é diferente da África contemporânea”, explica a representante no Brasil do International Cities of Refuge Network (Icorn), Sylvie Debs.

O projeto é realizado em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Com a Casa de Refúgio, que deve ser inaugurada em 2015, serão 46 cidades no mundo com esta estrutura. Sylvie trabalhou durante quatro anos em Ouro Preto. “A palavra é muito forte. Por isso, muitos políticos têm medo dela”, diz.

Mais que um auxílio humanitário, a vinda de intelectuais às casas é uma oportunidade de intercâmbio cultural oferecida às cidades parceiras. Segundo a representante do Icorn, após um breve tempo de adaptação, os escritores começam a trabalhar nas universidades ou instituições parceiras. “Ouro Preto foi palco de movimentos de resistência e lutas pela liberdade. Um lugar para celebrar a liberdade de expressão”, afirma a coordenadora do Fórum das Letras Guiomar de Grammont.

O próprio Fórum é um exemplo dessa liberdade e diversidade multicultural. Entre os debatedores, esteve o poeta iraniano Mohsen Emadi, refugiado de seu país há cinco anos. Nascido em uma cidade rural próxima a Teerã, Mohsen diz que sua vida sempre foi pautada por conflitos. “Lutava política e poeticamente. Estou acostumado com situações difíceis. Com isso, descobri que dentro da guerra também podemos amar”.

Do lado da plateia, turistas e intercambistas de todo o mundo celebram a diversidade. Caso de cinco amigos que assistiam ao show de Adriana Calcanhotto. A médica Mina, 29 anos, da Coreia do Sul; seu amigo, o engenheiro de sistemas Kim Jagwoong, 32, e o holandês Roel van Gemert, 27, foram recebidos por um chileno: o estudante de mestrado e morador de uma das repúblicas locais Rafael Silva.

“Já passamos na feira de livros. Há muitas atividades aqui”, cita Rafael. No fim de semana, os turistas devem conhecer cachoeiras da região e, se der, vão aproveitar para saber o que é um pé de jabuticaba carregado – a doce fruta que já souberam ser negra por fora e branca por dentro.

*A repórter viajou a convite do Fórum das Letras

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