Voz da contracultura dos anos 1960 marca presença na Fliporto

Leida Reis - Do Hoje em Dia
17/11/2012 às 13:48.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:21
 (Rosemary Bailey/Divulgação)

(Rosemary Bailey/Divulgação)

O escritor inglês Barry Miles é a voz da contracultura dos anos 1960 na Feira Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), que teve início na noite de quinta-feira (15), com show poético-musical de Maria Bethânia, e termina neste domingo (17) com aula-espetáculo do escritor Ariano Suassuna. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Miles lembrou o sentimento de uma época marcante para a música e a literatura do mundo.  Ele foi amigo de Allen Ginsberg, dedicou quatro anos a transcrever a vida do poeta beat em livro, e acompanhou o nascimento dos Beatles. Escreveu biografias de Paul McCarney, John Lennon, Frank Zappa, Jack Kerouac, Charles Bukowski e outros.

Barry Miles participa da Fliporto neste domingo. Ele divide com Carlos Figueiredo a mesa "Com o pé a estrada da contracultura".

Nas diversas biografias que escreveu, de qual mais gostou?

Ainda gosto muito da primeira biografia que escrevi, sobre Allen Ginsberg. Allen foi um amigo íntimo que sempre me acompanhava quando ele estava em Londres de 1965 em diante. De 1969 até 71, passei meus verões vivendo na sua fazenda em Cherry Valley, no norte do estado de Nova York, e por ele eu conheci a maioria dos beats sobreviventes. Trabalhei no livro por quatro anos e entrevistei ele extensivamente, assim como pessoas como Philip Whalen, Michael McClure e os outros beats. Acho que o primeiro livro de alguém é sempre importante. (Escrevi dezenas de "biografias de rock" antes disso, em maioria listas muito ilustradas de shows e discografias, às vezes com entrevistas copiadas de jornais e revistas. O que são chamadas de livros "copiar e colar".

Depois de Allen Ginsberg houve um poeta tão fortemente ligado à sua época?

Eu suponho que Lawrence Ferlinghetti é importante nesse sentido pois sua poesia foi escrita para ser lida em voz alta e ele tem muitos textos escritos por entre as décadas. Ele era mais populista e aberto politicamente que Allen, menos introspectivo, mas era um dos primeiros defensores do movimento ecologista, e claro um publicador importante. Ele ainda está vivo. Gary Snyder apelou para as pessoas da nova era, mas acho que rock'n'roll tomou o papel da poesia no início dos 60 e apenas Ginsberg conseguiu cobrir o vão.

O movimento da contracultura e a magia dos anos 60 ficaram no passado. Além da produção artística, o que a sociedade atual deve àqueles tempos?

No Reino Unido ainda teríamos um sistema escolar muito rígido, ainda haveria faixas nas casas de estudantes dizendo: "Proibido negros, Proibido cachorros, Proibido irlandeses" - acho que a década de 60 tem uma imensa parte no processo de guiar uma sociedade multicultural surgindo aqui. Ela viu o fim da discriminação contra homossexuais e a legalização da homossexualidade (em 1967); viu o início do movimento feminista e apoiou a luta pela igualdade entre sexos; viu o início do movimento ecologista, o crescimento de vegetais orgânicos e carne, a preocupação geral pela segurança do planeta. Era uma alternativa a uma sociedade definida apenas pelo consumismo: sugeria que havia mais na vida do que comprar coisas, investigava disciplinas espirituais diferentes, experimentou com drogas alucinógenas - isto é, LSD e as outras que não eram tomadas só por rebeldia, mas estas também.

A tecnologia tão desenvolvida na atualidade dificulta movimentos semelhantes aos que viveu, uma vez que aproxima das pessoas de forma virtual e não incentiva o contato direto?

Acredito que o WikiLeaks e a difusão dos blogs são hoje o equivalente da imprensa clandestina, certamente o sistema parece pensar de forma a se opor a qualquer um trabalhando nessas áreas. O preço de propriedades ficou tão alto nos centros de Londres, Nova York, Paris, San Francisco, etc que o único lugar em que uma bohemia pode existir é como uma "bohemia viajante", e claro como uma "bohemia online". Acho que as pessoas sempre se juntarão para fazer as coisas, mas muito da preparação pode ser eletrônica no futuro.

O senhor conhece músicos e escritores brasileiros? Como vê a arte produzida no Brasil?

Devo confessar que sou um completo ignorante sobre o Brasil e sua cultura. Algo que espero corrigir participando da Fliporto.


 

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