Youtubers escrevem livros inspirados em Minecraft e viram sucesso editorial

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
03/06/2016 às 19:34.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:44
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

Quem tem criança em casa de idade entre 7 e 13 anos já sabe bem: Minecraft é a febre do momento. Além do jogo, os garotos querem ficar ligados nos vários canais do YouTube em que jovens criam histórias a partir dos vários mundos possíveis desse universo em que tudo tem formato quadricular. 


O frisson é tão grande que outro filão se abriu a partir do game: livros infantojuvenis que tem o Minecraft como inspiração. Vários youtubers passaram a ser contratados por editoras brasileiras e o resultado é impressionante: desde o fim do ano passado, há sempre várias dessas publicações nas listas dos dez mais vendidos do país.

Um desses sucessos é Marco Túlio, o jovem de 20 anos à frente do canal Authentic Games. Sua biografia, “Vivendo uma Vida Autêntica” (Astral Cultural), já teve cerca de 100 mil exemplares vendidos. 

“Meu pai viu que muitos seguidores faziam perguntas sobre a minha vida e me deu a ideia de escrever um livro, falar o outro lado do Marco Túlio”, conta o rapaz, que tem 5,4 milhões de inscritos em seu canal, a maioria com idade entre 8 e 12 anos. 

Ele não trabalha com roteiros prontos, suas histórias nascem conforme vai jogando o Minecraft e gravando para o canal – onde faz duas postagens diárias. “As melhores ideias surgem enquanto estou jogando”, conta Marco Túlio, que deve lançar um livro de ficção no ano que vem e fazer vestibular para Artes Cênicas ou Publicidade.

Filão
A primeira editora a investir nesse filão no Brasil foi a Galera, selo jovem da Record que já editava livros referentes a games. Foi ela quem trouxe para o Brasil a série escrita pelo americano Mark Cheverton, que é professor e desenvolve as aventuras para seu filho autista. 

“Recebemos um feedback de pais de muitas crianças que não liam nada e passaram a tomar gosto por leitura depois que tiveram contato com livros de Minecraft. O menino já tem o interesse pelo jogo e gosta de produtos relacionados”, afirma Ana Lima, editora da Galera. 

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Crianças gostam de construir, destruir e interagir no jogo

Encontrar crianças que são apaixonadas por Minecraft não é nada difícil. Basta chegar uma rodinha de conversa entre eles e você ouvirá muito sobre “Survival Mode”, “Adventure Mode”, “Nether” e outros termos incompreensíveis para os leigos. Vale lembrar que já foram vendidos mais de 100 milhões de cópias do jogo em todo o mundo e há muitas outras baixadas ilegalmente.

Maria Clara Carvalho tinha 8 anos quando começou a jogar. Hoje, aos 10, constrói casas e castelos no computador e no celular. Assiste os vídeos dos youtubers sempre que chega em casa, depois da escola. 

Agora divide seu tempo com a leitura de “Um Mundo, Dois Heróis”, de Rezendeevil, pseudônimo de Pedro Afonso (o mais bem-sucedido entre os youtubers). “Gosto muito desse mundo quadrado e de construir”, diz Maria Clara.

Seu colega Cayque Horta, também de 10 anos, gosta tanto de Minecraft que já montou um canal de vídeo. “Mas tive que acabar com ele, porque minha mãe me mandou estudar mais”, conta o garoto, que gosta de copiar criações que observa nos vídeos, mas também desenvolver seus próprios ambientes e histórias.

Luísa Schayer, 11, garante que já criou suas próprias histórias – só faltou registrar. “Uma vez, criei uma cidade, em que ficava popular e depois ia trabalhar em uma editora de revistas”.

Barbara Jales, 10, gosta mesmo é de jogar no modo de sobrevivência. “É bom lutar contra os zumbis e ter planos para sobreviver”.



Pedagogia

A pedagoga e professora de Português Rosimeire Marques percebeu em casa que os livros baseados em Minecraft são poderosos aliados. “Meu filho nunca gostou de ler. No dia em que ele me pediu para comprar um livro do Minecraft, eu fiquei muito feliz. É assim que começa o prazer pela leitura”, conta. 
Ela verificou que as obras são adequadas a leitores iniciantes, com letras grandes, espaçamento duplo e ilustrações. 

Segundo Rosimeire, muitas vezes os adultos não se dão conta dos benefícios do jogo. “Enquanto joga, a criança está trabalhando a Matemática, além de percepção de espaço e tempo”, diz.

A função pedagógica do jogo é tão clara que a Microsoft está criando um portal para ajudar professores a usar o Minecraft nas aulas. 

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