Zuenir Ventura lança "Sagrada Família" nesta segunda em BH

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
13/08/2012 às 11:32.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:25
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

A mocinha casadoira, a mãe caseira e zelosa, a tia viúva e bonitona, o menino ingênuo, a esposa submissa, o marido violento. Esses conhecidos personagens saídos do Brasil dos anos 1940 e 50 – alguns permanecem ainda hoje, vamos admitir - são integrantes da trama quase novelesca de "Sagrada Família" (Alfaguara, Editora Objetiva). O livro foi escrito por Zuenir Ventura, que vem lançá-lo nesta segunda-feira (13), em BH, no Sesc Palladium, dentro da programação do projeto Sempre um Papo, às 19 horas.

Livro de memórias, porém também de ficção, "Sagrada Família" já prepara a mente do leitor no início. "Só dez por cento é mentira. O resto é invenção", diz Zuenir pegando emprestado a frase do poeta Manoel de Barros. A identificação com os personagens é imediata.

"As pessoas ligam e dizem que na cidade delas tem uma Tia Nonoca (a viúva e bonitona), ou o Douglas (o marido violento). Realmente podem ser personagens de qualquer cidade. Ponte Nova, onde morei, Nova Friburgo..." Mas o escritor mineiro deixa claro: "Florida é uma cidade imaginária".

Aos 81 anos, Zuenir diz que as memórias são modificadas pelo tempo. Inevitavelmente. "À medida que o tempo vai passando, as lembranças vão virando ficção. A gente não sabe se aquilo aconteceu mesmo ou se aconteceu exatamente como lembramos. A memória é traiçoeira".

"Sagrada Família" começa a ser narrada por um menino em plenos anos 1942. Tudo a ver com a infância de Zuenir que nasceu em Além Paraíba (MG), em 1931. "Foi a época da invasão cultural dos Estados Unidos. Chicletes, filmes de Hollywood". Florida, e não "Flórida", como o estado norte-americano, ficaria na região serrana do Rio de Janeiro.

"Ela se mete onde não é chamada. Assalta"

Para os reféns da memória ainda há duas subdivisões que merecem ser consideradas: a memória consciente e a inconsciente. "Eu, como jornalista, trabalho com a memória consciente. Como escritor, neste livro, entra a memória inconsciente".

A segunda, explica, "se mete onde não é chamada. Assalta". Tristezas, alegrias e muito ensinamento vêm juntos dessas imagens. Reflexão sobre a evolução do tempo também. "Muitos dos valores de ontem ainda vigoram. Mas estamos avançando. Sou otimista. Mas precisa avançar mais".

Em "Sagrada Família" esse "avanço" e também a reflexão são mostrados. "Cotinha (esposa submissa) e Douglas estiveram casados por uns três anos. O mais espantoso é que os quatro – ela, ele, Leninha (a casadoira) e Tia Nonoca – viveram boa parte desse tempo na mesma casa. Como isso foi possível, como pessoas se odiando tanto – pelo menos duas delas, a sogra e o genro – puderam conviver diariamente é uma pergunta que ainda me faço". E a explicação: "Uma hipótese é que eles amavam se odiar e precisavam manter renovado esse ódio, de preferência alimentando-o todo dia. Não sei se era isso".

Como se livrar de escolhas obsessivas? Como avançar mais? Zuenir diz que não tem receita para isso. Quem terá? "Não tenho receita pra nada. Ainda estou aprendendo aos 81 anos". Seguindo um costume de muitas famílias – infelizmente raro em meios urbanos - Zuenir termina a entrevista e vai buscar a neta na escola.

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