Livro desnuda palco de glórias e tristezas

Pedro Artur - Hoje em Dia
17/05/2014 às 08:12.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:37
 ( JC Martins/Divulgação)

( JC Martins/Divulgação)

O Mineirão provocou mudanças no futebol mineiro e também nos costumes da sociedade. E a descoberta que aquela Belo Horizonte da metade dos anos 1960 deixava para trás os ares de uma cidade bucólica para se transformar, aos poucos, numa metrópole cosmopolita. É com esse olhar que mescla jornalismo e crônica que Sebastião Martins desnuda o estádio, palco de glórias e tristezas do futebol mineiro.    Tião Martins, como é mais conhecido, retoca, com sensibilidade, “Mineirão”, pela coleção “BH. A Cidade de Cada Um”, da Conceito Editorial, que será lançado neste sábado (17), às 11h, na Status Café, Cultura e Arte (rua Pernambuco, 1150, Savassi). O livro custa R$ 20.   Escritor e jornalista que participou de coberturas históricas no Mineirão, Martins diz que a realidade da cidade mudou para sempre com a inauguração do estádio em 5 de setembro de 1965.   “A coleção é um relato das pessoas sobre suas vidas em determinada região da cidade. E o Mineirão teve grande impacto na vida de Belo Horizonte. O que aconteceu quando o Mineirão foi inaugurado? Aconteceram mudanças de hábitos nas pessoas e a mudança mais importante que o livro relata foi a descoberta pela sociedade, do primeiro contato de Belo Horizonte com a multidão. Não se via multidão na cidade e, pela primeira vez, você tem 100 mil pessoas num mesmo lugar. Descobriram que era uma cidade grande, não mais a tranquila e silenciosa do passado”, ressalta.    E, com toda essa mobilização, vieram outros comportamentos. “De repente, aquela massa que frequentava o Mineirão ouvia palavrões que não escutavam”, observa.   Martins lembra de uma de suas coberturas de um clássico entre Atlético e Cruzeiro no Gigante da Pampulha. Ele, que trabalhava para a editora Abril, foi escalado com um time de feras como Roberto Drummond, Wander Piroli, Alberico Souza Cruz, sob a coordenação do escritor João Antônio, para a produção de uma reportagem para a Revista Realidade.   “A Realidade abriu oito páginas sobre o Mineirão em dia de clássico entre Atlético e Cruzeiro. O João Antônio fez um texto maravilhoso e muito político em plena ditadura. Provocou, mas não agressivamente, mostrando a coisa da massa. Aquela massa compacta, uma multidão que podia ser envolvida por um movimento como o futebol, com uma visão política, com discrição”, diz.   Ele recorda que, nesse clássico dos anos 60, uma torcedora cruzeirense entrou no lado da torcida rival. Saiu de lá nua. “Ela entrou pelo acesso errado e foi parar em meio à torcida do Atlético. Era uma menina de 17, 18 anos. Quando o pessoal viu, cercou-a, ela sumiu no meio daquela massa. Só via a roupa sendo jogada para cima; saiu completamente nua no meio da multidão. E, se fosse torcedora do Atlético, aconteceria a mesma coisa”, conta Martins, que fala também de um personagem, torcedor americano, que se julgava pé frio, entrava no estádio, mas não via o jogo, preferia ouvir pelo rádio.   Realidades   Sobre o novo Mineirão, reinaugurado em estilo arena, Martins diz que será preciso tempo para avaliar o impacto entre os torcedores, mas já detectou que não há ainda a mesma identificação. “Antes aquele espaço pertencia ao povo, hoje as pessoas não sentem que aquele é o lugar delas (mais pobres), não se sentem à vontade como antes”.

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