Livro retrata a incrível história da Arara Azul de Lear, espécie rara no país

Thiago Pereira
talberto@hojeemdia.com.br
06/10/2017 às 18:09.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:06
 (Divulgação)

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Canudos é um ponto essencial na cartografia das resistências populares no Brasil. Local do confronto mítico, de veriz sócio-religioso entre os comandados de Antônio Conselheiro e o Exército do país, a cidade no interior baiano é revisitada constantemente pelo imaginário das lutas coletivas contra a opressão do poder oficial. Mais de um século após, a região ainda mantêm suas batalhas– uma delas pela preservação de uma espécie ainda em perigo de extinção. A arara-azul-de-lear assim, é o tema central de “Jardins da Arara de Lear”, obra do fotógrafo João Marcos Rosa e do jornalista e escritor Gustavo Nolasco, lançada na última semana. 

O livro refaz a saga do o naturalista alemão Helmut Sick, que descobriu a existência da ave na região em 1979, ao mesmo tempo em que conta a história das mulheres e homens sertanejos, de sangue ou alma, que lutam pela preservação dessa espécie ainda em perigo de extinção. “Eu acho que ficaria difícil de fugir dessa linha de uma saga, de uma expedição, em função do que realmente é estar aqui, do que e ir em busca dessa espécie ou em busca desses personagens, em meio a um ambiente tão hostil e de tanta dificuldade de acesso”, diz o fotógrafo.

Por quase um ano, a dupla percorreu toda paredões e grotões da caatinga nas cidades de Jereamoabo, Euclides da Cunha e Canudos. Enfrentaram também o temido Raso da Catarina, uma das áreas mais áridas do Brasil. “Acaba sendo inevitável que o livro tenha esse ritmo e esse clima de uma grande expedição, até porque também a gente se baseou muito tanto no texto, quanto nas imagens na busca do Helmut Sick pela espécie e de outros naturalistas também”, revela. 

Fotógrafo que possuí trabalhos para publicações como National Geographic, foi através deste histórico que Rosa se embrenhou na região. “Fiquei o ano de 2012 e 2013 produzindo esse conteúdo, a reportagem foi publicada no final de 2013. E acabou que depois de produzir aquele tanto de conteúdo, ouvir aquele tanto de história e ter que condensar aquilo tudo numa reportagem, fica sempre aquela vontade querendo ampliar o escopo dessa abordagem”, revela.

Luta

Quando Sick descobriu o habitat da arara azul, o animal estava à beira da extinção–contava-se apenas 21 espécies. Foi com o espírito de preservar sua cultura que os habitantes da região buscaram proteger o animal. Nesse sentido, o espírito de ativismo por uma causa atravessa toda a história. “Eu acho que a gente tá militando em prol do Sertão, essa é a nossa é a nossa busca com esse material, é mostrar as histórias positivas que acontecem por aqui, mostrar as belezas que a gente tem por aqui, e a riqueza cultural”, diz Rosa. “Nesse sentido a gente tenta dar voz a pessoas e um território renegado”.

O caráter de resistência do próprio livro também é sublinhado por Nolasco, que conecta o tema da obra com o histórico da região. “A gente pode ligar isso também ao histórico de resistência da região. E sabemos como é que o nordestino sertanejo foi e é tratado no Brasil. A arara está numa região onde existe uma reserva indígena dos Pancararés, e sabemos como o povo indígena foi e é tratado no Brasil. Também falamos de uma região aonde aconteceu o primeiro e maior movimento de resistência popular ocorrido no Brasil República, que é a Guerra de Canudos, que foi um ato contra o governo. Então, falamos de um ambiente e de pessoas que têm história de resistência. É essa a ligação com as minorias, pelo que deve movê-las, que é a vontade de resistir”, concluí. 

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