Livro revela nuances da Festa do Rosário do Serro; lançamento acontece nesta terça

Lucas Buzatti
11/12/2018 às 07:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:29
 (Miguel Aun/Divulgação)

(Miguel Aun/Divulgação)

“Como um rio, o negro foi se adaptando e achando caminhos, até desaguar num mar de superação da tamanha desumanidade gerada pela escravidão”. A reflexão é da historiadora Márcia Clementino Nunes, que há mais de 30 anos investiga a complexidade de um dos festejos mais antigos do povo negro no Brasil. A pesquisa resultou em “Festa do Rosário do Serro”, que trata da celebração tricentenária na cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. 

Com 224 páginas, o livro ilustra em imagens e texto a fé dos negros escravos na Nossa Senhora do Rosário, santa de tradição cristã e branca, que se transformou em protetora dos pretos em Minas Gerais. “A historiografia trata a festa como uma expressão do negro que se adaptou ao sistema, que encontrou uma santa branca. Quando fui estudar história, fiquei me perguntando: ‘será que a festa tem algo mais a dizer que essa leitura de cima para baixo?’”, diz a serrana, ressaltando que o livro traz fotos de Miguel Aun.Camila Valente/Divulgação

Márcia Clementino Nunes pesquisou por 30 anos o tema

A partir daí, Nunes passou a pesquisar a representação teatral do festejo, que narra a história colonizadora de Minas e do Brasil. Nela, três grupos dançam pela devoção à santa – catopês, caboclos e marujos, representando negros, índios e brancos, etnias básicas da formação brasileira. 

“O negro escravizado foi apartado de sua terra natal e separado dela por um mar atlântico. Um caminho sem volta, cujas possibilidades eram apenas o suicídio, a fuga para os quilombos ou a adaptação”, explica. “Então, pelos que tentaram se adaptar, foi criado esse ritual complexo e maravilhoso, uma expressão da voz do escravizado”. 

Nunes destaca que, por meio de danças, tambores arcos e flechas, a Festa do Rosário retrata o mundo colonial em que os negros escravizados viviam – colocando-os, porém, como protagonistas. “É um ritual que recupera as estruturas sociais rompidas pela escravidão, recompondo simbolicamente famílias e costumes de uma forma subliminar e sutil, já que não havia outra saída”, afirma. “Sendo reis e rainhas, buscavam recuperar sua dignidade; dançando e batendo tambores retomavam suas estruturas culturais. É um modo de escape do desejo de ter a liberdade e a dignidade de volta”.

ServiçoLançamento do livro “Festa do Rosário do Serro”. Nesta terça-feira (11), às 19h, na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais (Praça da Liberdade, 21 – Funcionários). Entrada franca

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