Lya Luft lança livro de memórias e diz que quer descansar

Elemara Duarte - Hoje em Dia
13/04/2014 às 14:56.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:06
 (Divulgação)

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“O que tanto pensava a criança dos dias sem televisão nem computador, mas com muita fantasia?”. Com esta reflexão, a escritora, professora e tradutora Lya Luft faz o ponto de partida para o mais recente livro dela: “O Tempo é Um Rio Que Corre” (Editora Record, 144 páginas, R$ 28).

Este é o segundo livro de memórias de Lya. Mais precisamente, ela define o conteúdo da publicação como sendo “memórias delicadas de uma experiente escritora”.

Em 2002, com o livro “Mar de Dentro”, ela também voltou o olhar para sua jornada íntima. “Eu gosto de falar desses velhos temas. Não através de personagens, mas falando diretamente com o leitor”, justifica Lya.

Velha Dama

Em “O Tempo é Um Rio Que Corre”, a escritora traz histórias bucólicas e os costumes de uma menina moradora de uma cidade do Sul brasileiro, até chegar nas reflexões existenciais de uma mulher madura na casa dos 70”.

E aqui, assuntos sobre a ronda que a morte sempre faz em torno de nós são inevitáveis. Porém, estes temas são tratados com naturalidade pela escritora nascida na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul.

Mas Lya Luft encara a situação: “Não tenho com relação à velha dama um pensamento mórbido, não a espero deitando na cama e cruzando as mãos no peito, não curto essa que já me tirou o tapete de debaixo dos pés”

Um estalo

O caminho parece longo, mas a sensação é de que tudo passa num estalo. E nisso, várias reflexões, às vezes, melancólicas, brotam na cabeça da escritora, que publicou seu primeiro romance aos 41 anos, intitulado “As Parceiras” (1980). Já os primeiros poemas foram reunidos no livro “Canções de Limiar” (1964).

Na estreia em prosa, Lya também voltou ao passado – nesse caso, por meio de personagens – para mostrar sufocantes relações familiares e mulheres massacradas por valores patriarcais.

De “As Parceiras”, há mais de 30 anos, para o atual “O Tempo é Um Rio Que Corre”, parece que uma névoa de perdão e de tolerância invadiram a linguagem reflexiva de Lya Luft. Talvez a maturidade tenha esse poder de diminuir a acidez do olhar, mesmo que o assunto incida sobre o que é, na maioria das vezes, trágico e inevitável.

Mas, como num suspiro, Lya mostra uma sutil inclinação de esperançosa espiritualidade: “Se imaginarmos que o nebuloso mar chamado morte pode não ser o fim de tudo, e que esconder o rosto na dobra do braço não adianta nada, em lugar de nos deixarmos levar com desespero silencioso, podemos ter mais consciência da construção disso que somos”.

E o impulso positivo não para aí. A autora diz que quer “escrever partes desse roteiro, com decisões, com coragem, com medo e terror, acertos e tantos enganos”. Afinal de contas, a vida é assim.

Na tranquilidade

“O tempo transforma, a memória preserva, a morte, ao fim, absorve. (Ou devo escrever ‘absolve’?)”, resume, na apresentação escrita em janeiro deste ano, na tranquilidade da turística Gramado, na Serra Gaúcha.

Lya Luft já morou no Rio de Janeiro e diz que escolheu voltar para o Rio Grande do Sul, mais precisamente para Porto Alegre, por causa da qualidade de vida de que, por enquanto, pode-se desfrutar na fria cidade.

“Fui gravar o programa desta menina (Fátima Bernardes, na Rede Globo) e foram duas horas de congestionamento para voltar da Barra. Como isso é possível?”, exemplifica, ao telefone, ainda durante a entrevista a este jornal, sobre uma das dores de cabeça das quais tenta ficar bem longe, estando em uma cidade menor.

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