Músicos de formação sofisticada são influenciados por ritmos superpopulares

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
06/02/2016 às 09:39.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:19

Além de músico, o mineiro Matheus Brant é advogado e defendeu na UFMG a dissertação de mestrado “A Música e o Vazio no Trabalho”, com reflexões sobre direito do trabalho a partir de textos de Hannah Arendt. Mas ele está longe de ser um apegado à academia ou à sofisticação do que conhecemos como MPB.
 
Fundador do bloco Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro, ele é um grande apreciador de ritmos bem populares – aqueles que tocam nas rádios líderes de audiência – e mostra bem esse ecletismo no álbum “Assume que Gosta”, que acaba de lançar na internet.
 
Assim como Matheus Brant, alguns artistas em Belo Horizonte, que circulam por um universo mais descolado ou intelectual, fazem questão de deixar claro que adoram sucessos do pagode, axé, carimbó, funk, tecnobrega, arrocha – e levam isso para seus trabalhos.
 
Não por coincidência, são artistas que, de alguma maneira, também estão ligados ao Carnaval de rua: Guto Borges (Mamá na Vaca), Gustavito (Pena de Pavão de Krishna), A Fase Rosa (Juventude Bronzeada), Di Souza (Então Brilha), Rodrigo Torino (Candongueiros, de Ouro Preto).
 
Vem do passado
 
Na adolescência, nos anos 90, Matheus gostou tanto do pagode que tocava nas rádios que chegou a comprar um cavaco. Mas acabou entrando para uma banda de rock. Só reconheceu que gostava mesmo de pagode recentemente, ao ponto de reunir com amigos para fundar o bloco que se tornou um grande empreendimento comercial – tanto que está no “Camarote Belô”.
 
“O fato de ter passado 20 anos daquele auge, de ter uma distância de tempo, me permitiu depurar melhor o que gostava na adolescência, ao ponto de assumir mesmo”, conta Matheus, que levou outros ritmos superpopulares para seu terceiro disco, como arrocha, sertanejo e axé.
 
Misto
 
“Assume que Gosta” foi gravado em São Paulo, contando com a produção de Fábio Pinczowski e Mauro Motoki e participações de Juliana Perdigão, Luê e Kdu dos Anjos. “Coloquei na minha cabeça que ia fazer músicas nesses gêneros populares, mas tive a preocupação de não perder a minha identidade. Tem características minhas, de alguém de quem tem formação de MPB”, explica.
 
Axé, pagode e música romântica atraem público descolado

Parceiro de Matheus Brant na música “Assume que Gosta”, Rodrigo Torino sabe muito bem o que é revelar ao mundo o seu gosto que muitos amigos rotulam como “duvidoso”. Líder do Senta a Pua! (projeto instrumental de gafieira) e violonista da Orquestra Ouro Preto, ele tem três projetos ligados ao universo superpopular: Pagodin Retrô (pagode), Sem Limites Pra Sonhar (música romântica) e Bagaceira Cult (variado).
 
“Quando criei o ‘Sem Limites’, há sete anos, foi um choque. Teve gente pensando: como um músico da área instrumental pode ter um projeto voltado para música mela-cueca?”, lembra Torino, que não vive só a nostalgia, mas prestigia também a música popular da atualidade.
 
Aos poucos, Torino leva essa influência para o trabalho autoral. Por enquanto, ele tem feito versões em português e em ritmos populares de alguns sucessos internacionais. “Fiz uma versão para ‘Take on Me’, do A-Ha, que ficou brega”, revela o músico, contando que boa parte de quem vai aos seus projetos é formada por um pessoal “cult”. “Gente que não gostava de pagode na época, mas escutava no cantinho do ouvido, de tabela. E hoje se permite cantar”.
 
A banda A Fase Rosa sempre levou a influência das mais diferentes vertentes da MPB para seu trabalho – algo que fica claro em seus dois álbuns. Mas o interesse dos integrantes pelo axé ficou evidente após a criação da banda – e depois bloco – Juventude Bronzeada.
 
“Eu me interesso pelo ponto de vista político, de garimpar na música popular brasileira coisas que ganharam relevância pelo discurso, pela transformação que propiciaram”, conta Thales Ferreira da Silva, vocalista d’A Fase Rosa.
 
Ele lembra que esse mergulho em ritmos superpopulares sempre foi feito com maestria em nossa história. “Muitos artistas que admiro muito, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Carlinhos Brown, tiveram muitas composições de axé em suas carreiras”, diz o músico.
 
Ouça "Assume que Gosta", de Matheus Brant:
 

 
A Fase Rosa no bloco Juventude Bronzeada:

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Já pintou verão, calor no <3, a festa vai começar!Viva o primeiro dia da nossa estação favorita! Publicado por Juventude Bronzeada em Terça, 22 de dezembro de 2015

 

 

 

Rodrigo Torino - Projeto Pagodin Retrô:

 

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