Músicos que se destacam na cena cover da capital mineira investem na carreira autoral

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
31/01/2016 às 09:31.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:14
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Todo roqueiro de BH que se preze já viu Alexandre da Mata alguma vez no palco. Ele é vocalista e guitarrista do Seu Madruga, uma das bandas que mais circulam por casas noturnas da capital e principal referência no universo cover quando o assunto é AC/DC. Mas aos pouquinhos, o público também vai se acostumando com o outro lado do músico, com a banda Alexandre da Mata & The Black Dogs, que vem angariando elogios entre os admiradores do blues rock.

Gente que costumava vê-lo cantando como Brian Johnson, vocalista do AC/DC, ficou curioso para conhecer o outro projeto e acabou descobrindo algo novo para apreciar. “Muita gente está gostando até mais do Black Dogs, comprando o disco e prestigiando a banda”, conta o artista, que, em seu projeto autoral, atua como guitarrista.

Confira o som do Seu Madruga, AC/DC cover, com Shoot to Thrill:

Alexandre é um entre vários músicos que se destacaram no circuito roqueiro da cidade pelo trabalho desenvolvido em bandas covers e hoje conquistam espaço também no autoral. Boa parte daqueles vários artistas que estão à frente das bandas que homenageiam famosos possui um trabalho próprio e quer um reconhecimento.

Foco

Depois de se ver dividido entre duas bandas, Diego Faria decidiu agora só focar no autoral. Foram seis anos circulando com o Balão Vermelho (cover do Barão Vermelho). Ele agora se dedica exclusivamente a Bronnco Billy e os Mangas Coloradas, uma banda de country rock com músicas feitas em português. “Quando criei o Balão já pensava que eu precisava de um trabalho que tivesse uma boa circulação para que todos me conhecessem. Todos os shows que fiz com a Bronnco Billy vêm dos contatos que eu fiz com o Balão”.

Hoje, o foco de Diego Faria é somente no projeto Bronnco Billy e os Mangas Coloradas (Divulgação/Banda Riviera)

Para se ter uma ideia de como esses contatos eram importantes, Diego bateu em muitas portas vendendo uma banda de música autoral e de country rock (um som pouco conhecido por brasileiros) sem ter um disco para mostrar aos contratantes. Conseguiu circular por causa da confiança que havia conquistado entre donos de casas noturnas.

Ouça O Rabo do Macaco, de Bronnco Billy e os Mangas Coloradas:

Dedidação

Muito do sucesso da Singles se deve ao tanto que a voz de Daniel Lima se assemelha à de Eddie Vedder. Há 15 anos, ele circula por bares de BH interpretando músicas do Pearl Jam, além de tocar guitarra em outras bandas. Desde o fim do ano passado, no entanto, ele tem exposto o trabalho próprio, um rock de influências múltiplas.

“Meu trabalho solo começou quando eu estava morando nos Estados Unidos, estudando Engenharia de Áudio. Me aproximei de produtores e comecei a compor material novo. Um produtor, o Iain Fraser, gostou muito e começou a trabalhar comigo”, conta Daniel Lima, que desenvolveu um EP no ano passado com as primeiras músicas. Ele também faz show de lançamento do primeiro álbum, “Inside My Dreams”, no dia 20 de fevereiro, no Espaço Raja.

Daniel Lima já teve contato com repertório autoral em bandas anteriores, mas agora trabalha para o fortalecimento da carreira solo; lançamento do primeiro disco será em 20 de fevereiro (Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

Mesmo com uma boa experiência na área musical, Daniel entende que o trabalho autoral exige uma dedicação diferenciada. “Tenho uma maior responsabilidade, é o meu nome que está ali. Não tem como se esconder atrás de uma banda. Mas isso traz uma satisfação muito grande. Estava ensaiando fazer isso há muito tempo, mas precisava encontrar as pessoas certas para dar o passo”.

Para ele, é necessário educar o público a se abrir para o novo em vez de consumir apenas a música cover. Tem gente interessada em ouvir coisa nova, mas que precisa ser apresentada à novidade. “Tenho visto uma migração crescente de pessoas que me conheciam por causa da Singles e, aos poucos, têm contato do meu trabalho por meio das redes sociais. Vejo que é possível, que tem um público em potencial para consumir um som novo”.

Assista ao clipe de Daniel Lima e banda tocando Giving Way To Life na Autêntica BH, durante o Projeto REC Festival:

Divulgação

Quem faz questão de divulgar o trabalho autoral por meio do cover é Rafa Giácomo, guitarrista da Riviera e vocalista da banda cover Monkey Wrench (sim, aquele cara superparecido com Dave Grohl e que subiu ao palco para cantar com o Foo Fighters). Um grupo divulga o outro nas redes sociais e o resultado é muito positivo.

Exemplo disso foi uma enquete promovida pelo festival Flaming Nights. O público foi convidado a votar pela internet na banda que quisesse assistir no evento e a Riviera foi a eleita. Houve quem reclamasse da concorrência desleal na internet, afinal, a Riviera ganhou o apoio nos perfis de Monkey Wrench, do Circuito do Rock e de outras casas noturnas de Belo Horizonte e interior.

“Me incomoda quando surge um certo tipo de ataque que duvida da sua capacidade. Há quem acredite que o cover atrapalha o autoral, mas essa crítica só atrapalha o processo. Não se entende que (no circuito cover) há pessoas engajadas, que existe uma inteligência no planejamento de trabalho”, diz Rafa Giácomo. “Uma música autoral não vai ser sustentada pelo cover, isso é apenas uma ponte, uma forma de divulgação”.

Lado a lado

O trabalho autoral e o cover sempre caminharam lado a lado na carreira de Péricles Garcia – que também canta no Creedence Revival Brasil. Ele conta que, no início, imaginava que a transferência de público seria imediata, mas hoje compreende que não é bem assim. “Achei que as pessoas automaticamente ficariam fãs do trabalho autoral, mas tem gente que só gosta do cover mesmo. Por isso é tão complicado o processo de conquista de público”, afirma.

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