'Macunaíma', de Mário de Andrade, ganha versão musical para o teatro

Paulo Henrique
26/06/2019 às 09:01.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:16
 (Silvana Marques / Divulgação )

(Silvana Marques / Divulgação )

Quando Macunaíma soltou um “Ai, que preguiça!” pela primeira vez, nas páginas do livro que é um dos marcos do modernismo, o escritor Mário de Andrade chamava a atenção para o multiculturalismo brasileiro e para a liberdade de expressão em 1928. Tais ideias são atualizadas na adaptação teatral capitaneada pela diretora Bia Lessa e pelo grupo A Barca dos Corações Partidos, cartaz a partir desta sexta-feira, no teatro I do CCBB.

“Uma frase do antropólogo Eduardo Viveiros apontou um excelente caminho para a peça: o problema mundial hoje é a monocultura. Vivemos o fim da diversidade e esta tentativa de homogeneidade se transformará numa catástrofe. Além de ser um elogio ao ócio, o ‘Ai, que preguiça!’ pode ser entendido também como um retrato deste capitalismo desenfreado, em que, se for de outra forma, não serve”, observa Bia.

Como fica evidente no subtítulo da peça, “Uma Rapsódia Musical”, além do desafio de transpor para o palco um texto difícil, “cheio de contradições”, a premiada diretora foi convidada pelo Barca dos Corações Partidos a conduzir a história do anti-herói – exemplo da heterogênea formação cultural brasileira –dentro de um molde musical, seguindo a proposta dos últimos espetáculos do grupo.

Musical

“Me chamaram para fazer um musical, mas, no processo de criação, percebemos que ele não cabia num musical tradicional, até porque ‘Macunaíma’ levanta questões complexas, labirínticas. Era importante que a música seguisse esse caminho. Ao mesmo tempo que a música é melódica, também é árida, barulhenta. O resultado é um espetáculo de ideias contraditórias o tempo inteiro”, assinala.
Bia Lessa vinha de outra adaptação difícil do universo literário ao enveredar, em 2017, pela escrita experimental do mineiro Guimarães Rosa em

“Grande Sertão: Veredas”. A premiada diretora não esconde o interesse por transposições, motivada pelo desafio de pensar a questão espacial do homem num determinado contexto. “Grande Sertão” e “Macunaíma”, porém, são abordagens muito diferentes. “São opostos, do ponto de vista estético e linguístico. O primeiro é cheio de reflexão, já o segundo é cheio de ação”, pondera.

SERVIÇO
“Macunaíma – Uma Rapsódia Musical” – De sexta a 14 de julho. Quinta a segunda, às 20h. Teatro I do CCBB (Praça da Liberdade, 450, Funcionários), Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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