Maestro João Carlos Martins: “Dor na alma é pior do que no físico”

Elemara Duarte - Hoje em Dia
11/11/2015 às 23:28.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:26
 (Hoje em Dia)

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O maestro e pianista João Carlos Martins, aos 75 anos, lança a biografia “Maestro! - Uma biografia: A Volta Por Cima de João Carlos Martins e Outras Histórias” (Editora Gutenberg). Ele esteve em Belo Horizonte nesta terça-feira (10) para autografar a publicação fruto da pesquisa do jornalista Ricardo Carvalho.

Martins começou a fazer aulas de piano aos 7 anos e com apenas 20 já se apresentava no Carnegie Hall, nos Estados Unidos, um dos mais importantes palcos do mundo. Anos depois, ele tornou-se um dos mais importantes intérpretes de Johann Sebastian Bach (1685-1750).

Mas ao lado do raro dom e da intensa dedicação aos estudos, Martins teve de lutar contra um distúrbio neurológico, caracterizado por contrações musculares involuntárias progressivas. Foi então que, literalmente, a história pessoal do simpático e popularíssimo João Carlos Martins se tornou um livro aberto. Mais especialmente para os brasileiros, após a luta dele para superar os traumas físicos.

A doença afetou as habilidades motoras de Martins e o impediu de se dedicar plenamente à sua paixão pelo piano. Assim, aos 62 anos, o quadro físico o empurrou para buscar outros caminhos, e foi na regência que ele descobriu a direção. Hoje, como maestro, ele chega a realizar 170 concertos por ano.

Mas e a biografia? “Já foram feitos três documentários sobre a minha vida. Mas, há cerca de dez anos, o Ricardo Carvalho veio até mim dizendo que queria fazer a minha biografia”, lembra, ao Hoje em Dia, durante a sessão de autógrafos na Livraria Leitura, no Pátio Savassi.

A partir de então, Martins passou a se lembrar dos “detalhes' da trajetória já conhecida e admirada pelos fãs, incluindo a primeira vez em que sentiu uma “distonia” - dor e movimento involuntário, no caso do músico, na mão. “Eu tinha 17 para 18 anos. Eu disse: 'Pai, não consigo voltar ao palco para o bis'. No fundo, eu tive que conviver com esta dor até hoje”.

A biografia também traz fotos de família e da carreira do obstinado músico. “O importante é que ele (Ricardo) captou que eu nunca abandonei o meu sonho. Foram-se as mãos e ficou a música”, ensina o maestro.

Hoje, ele trabalha em projetos sociais em todo país para o desenvolvimento musical de jovens das periferias. Nesta proposta, ele criou a Fundação Bachiana. A instituição possui inclusive uma orquestra.

Teimosia? Amor pela música? Trabalho? Sorte? Talvez um pouco de tudo isso. Pelo menos, um número predileto o maestro conserva para esta última pergunta. “Sete é meu número de sorte. Ganhei o meu primeiro concurso em um dia 7, comecei a ter aulas de piano aos 7 anos...”, lembra.

Então, sete palavras para o Maestro, por favor!

1 - Amor
“Não se pode viver sem”.

2 - Obstinação
“Cumprir o seu destino”.

3 - Dor
“Na alma é pior do que no físico”.

4 - Inesquecível
“A minha volta como maestro ao Carnegie Hall”.

5 - Música
“Explica que Deus existe”.

6 - Autoconhecimento
“Um dia vou chegar lá”

7 - Futuro
“Meu projeto para os próximos 25 anos”.

...O senhor está com 75 anos. Então acredita que vai viver até os 100?
“E eu estou sendo modesto, pois meu pai viveu até os 102”. (Risos)


 

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