Maratona de filmes franceses começa hoje em BH

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
06/06/2018 às 17:42.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:27
 (CALIFÓRNIA/DIVULGAÇÃO)

(CALIFÓRNIA/DIVULGAÇÃO)

 Afirmar que o cinema francês é hermético é o mesmo que dizer que todo filme brasileiro tem palavrão e mulher pelada. O país europeu tem muita comédia rasgada e até fitas do gênero terror, uma diversidade que está presente na nona edição do Festival Varilux de Cinema Francês, com início hoje (7) em três salas de Belo Horizonte. Um dos destaques da programação de 21 longas, em cartaz até o dia 20, é o filme de zumbi “A Noite Devorou o Mundo”, de Dominique Rocher. A premissa não deixa de ser uma metáfora sobre o estilo intelectual do francês, a partir de um escritor solitário, Sam, que, após terminar com a namorada, vai até a casa dela para buscar fitas cassetes. A casa recebe uma festa com sexo, drogas e bebida e Sam está visivelmente incomodado com o que acontece à volta. Até que, no dia seguinte, após passar a noite no local, ele encontra o espaço revirado e sem ninguém. Aos poucos, descobre que todos viraram zumbis e ele é o único que não acabou infectado. A causa desta epidemia nunca iremos saber, com Rocher buscando outras camadas de leitura para a narrativa. Embora não fique devendo nada a um típico filme de mortos-vivos, o longa pode muito bem ser lido como uma sensação de inadequação do protagonista à sociedade atual – onde o fato de não ter virado um zumbi se torna um fardo. Vários elementos apontam para esse caminho, como o vínculo com o passado (o uso de fitas cassetes) e o medo de Sam de sair do lugar e descobrir se há outras pessoas como ele. Cada vez mais perturbado com a situação, o personagem se vê numa contagem regressiva para ser devorado por aqueles que, até outro dia, não passavam de párias para ele. Explorando muito bem a locação, o filme acompanha o protagonista num olhar para cima, em que ele vai subindo os degraus – literal e simbolicamente –até poder ver, com clareza, toda a capital francesa e sentir a necessidade de poder usufrui-la, aventurando-se por espaços novos e correndo o risco da descoberta. Além de apresentar o clássico “Z” (1969), de Constantin Costa-Gavras, o festival traz outras atrações, como o novo trabalho do cineasta François Ozon, intitulado “O Amante Duplo”. O filme lembra um pouco o recente “Baseado em Fatos Reais”, com a narrativa encampando o imaginário dos personagens e criando vários duplos dentro da história. Uma ex-modelo (Marine Vacht) procura um psicólogo para resolver alguns problemas persistentes, como uma dor de barriga, a falta de amor e um bloqueio sexual que não a impede de seduzir os que estão à sua volta, como o próprio terapeuta interpretado por Jérémie Rennier. A beleza externa surge mais como um engodo aos problemas interiores.

A trama caminha para um desfecho mais clínico do que psicológico, como em “Psicose”, de Alfred Hitchcock, mas sem conseguir o mesmo resultado no quesito suspense, perdendo de vista alguns dos conflitos da ex-modelo, passando de raspão em temas já explorados por David Cronenberg - gêmeos, o sexo como uma pulsão doentia e o poder manipulador dos médicos. Serviço: De hoje a 20 de junho, nos cinemas Belas Artes, Pátio e Ponteio. Confira programação no site variluxcinefrances.com/2018/cidade/belo-horizonte-mg

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