Marieta Severo vive, no palco, a saga da árabe Nawal

Elemara Duarte - Hoje em Dia
27/03/2014 às 07:24.
Atualizado em 18/11/2021 às 01:46
 (Leo Aversa)

(Leo Aversa)

Uma análise da trajetória artística e pessoal de Marieta Severo aponta para uma mulher à frente do seu tempo. Porém, em “Incêndios”, espetáculo teatral que apresenta desta quinta a sábado em Belo Horizonte, a atriz precisou se despir de tais características para protagonizar a oprimida Nawal. Oprimida sim, mas também forte.

O texto do libanês Wajdi Mouawad – que teve de deixar seu país natal por causa da guerra, aos dez anos – estreou no final do ano passado. Antes, já havia sido transposto para o cinema: aliás, a produção canadense, de 2011, terá exibição em sessão única, neste domingo, 30, às 19h30, no Cine Sesc Palladium.

Nawal, a personagem de Marieta, também vivencia a guerra. Em seus últimos anos de vida, já calejada por seu insalubre destino, se exila no Ocidente, onde morre e deixa, em testamento, uma difícil missão. Ela pede aos filhos gêmeos, Simon e Jeanne (Felipe de Carolis e Keli Freitas), que encontrem o pai e também um irmão, ambos perdidos.

“Estreamos no Poeira (espaço comandado por ela e pela atriz Andrea Beltrão, no Rio de Janeiro) para uma temporada de dois meses. Após o primeiro, a gente estendeu por mais um mês, e já com lotação esgotada até o final”, lembra a atriz. Mesmo abordando situações um tanto distantes da realidade brasileira, a peça é tocante ao tratar de instituições universais: família, estado, trabalho. “É uma comunicação avassaladora com o público”, reconhece Marieta.

A dor, a tristeza, a superação, entre outros sentimentos da fortaleza de Nawal, estão no cerne da história, mas, segundo a atriz, a caprichada produção também contribui para a inteireza comunicativa da montagem.

“Tudo isso, mas também uma grande história contada com uma grande qualidade teatral”, resume. E mesmo que o público não tenha familiaridade com o vocabulário do teatro para nomear cada um dos elementos presentes, sentiria os efeitos deles: “No final do espetáculo, é comum dizerem: ‘Há muito tempo não via um teatro assim’”, conta ela.

Marieta destaca que uma direção feita como um “guarda de trânsito” – “você vai para lá, você vai para cá”, não teria muito sentido. “A peça possui marcas, soluções cênicas criativas para escolher o que há de melhor no texto”, expõe.

Palmas para o experiente Aderbal Freire-Filho, 72 anos, e também namorado da atriz. Recentemente, Aderbal – também curador do Poeira – levou para casa o Prêmio Shell por esse trabalho. “Andrea e eu nos ocupamos diariamente do teatro”, diz Marieta Severo, referindo-se a seu lado “empresária” na casa de espetáculos que fundaram no bairro do Botafogo. O que inclui pagar contas, recursos humanos... “Tudo é com nós duas”, garante, satisfeita. E onde aprendeu a gerir? “A vida me ensinou. Sei empresariar teatro, mais nada”, coloca um ponto final.

E apenas o seu teatro. “O Poeira é um pensamento concretizado”, justifica ela, aos 48 anos de carreira. E o ponto inicial deste quase meio século de trajetória artística foi a peça “Feiticeiras de Salem” (1965). “A primeira coisa que fiz foi filme, mas já ensaiando esta peça e, em seguida, ‘O Sheik de Agadir’ (novela de 1966, da Globo). Já apontei logo para os três lados”, brinca.

Na época, aos 18 anos, a jovem, ágil e esguia Marieta Severo começava a trilhar a profissão. Fazia cursos e se preparava intuitivamente para marcar a dramaturgia brasileira em seus mais altos postos. “Cada trabalho me propõe um universo e quero é mergulhar nele”, avisa ela.

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