Marroquino ‘Adam’ também valoriza mulheres

Paulo Henrique Silva
14/11/2019 às 09:35.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:41
 (Arteplex Filmes/Divulgação)

(Arteplex Filmes/Divulgação)

Não é por acaso que uma simples passagem de rímel se torna símbolo, em “Adam”, da mudança de perspectivas de uma personagem. Em cartaz a partir de hoje nos cinemas, o representante do Marrocos na disputa por uma vaga entre os indicados ao Oscar de melhor produção estrangeira é todo conduzido pelos olhares do trio protagonista, formado por uma mulher viúva, a filha dela e uma grávida desconhecida que lhe bate à porta.

A imagem surge muitas vezes fixa nos rostos destas duas mulheres marcadas pela sensação de perda – aquela ocorrida no passado e outra que está por vir, após o nascimento do filho de Samia, ao “condenar” este à sina de ser um bastardo numa sociedade conservadora. Antes de chegarmos a estas informações, porém, há um movimento contrário e gradual de aproximação, em torno da possibilidade de se abrir ao outro.

Silenciosas nas próprias dores, fechadas em seus mundos, ela se unem no fabrico diário de pães, símbolo de uma amizade que é fermentada a partir do olhar ingênuo e envolvente de uma criança. É ela quem aproxima estas duas mulheres sofridas, fazendo-as enxergar que, numa casa tão espaçosa, é preciso haver vida novamente. Este novo estado é representado pela chegada do filho de Samia, que ocuparia o lugar do marido morto de Abla.

O roteiro de Maryam Touzani, que também assina a direção, se debruça sobre estes ciclos de vida, rituais que, não raro, se estendem além do necessário devido à própria sociedade. A viuvez de Abla é prolongada ao retirarem o direito dela de se despedir do marido, vivenciando um eterno luto. Neste sentido, o trabalho das atrizes Nisrin Erradi e Lubna Azabal é primoroso, com a história se passando apenas no olhar delas, o que é pertinente numa realidade em que à mulher é negada a possibilidade de se manifestar.

Culpas

"Adam” está longe de ser um filme de denúncia social, mas a maneira como as protagonistas se veem presas aos seus destinos faz dele um trabalho feminista, sobre culpas que são autoimputadas, em que o medo passa a reger a vida delas. A demora em se abrirem nos primeiros 30 minutos não é à toa. Ambas renunciam ao novo, à chance de construírem uma vida com alguém ao lado, seja na forma de um amor ou de um filho. 

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