“Materia Prima” traz questionamentos universais a partir do olhar de quatro pré-adolescentes

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
13/05/2014 às 08:55.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:33
 (Mario Zamora/Divulgação)

(Mario Zamora/Divulgação)

Não é comum ver pré-adolescentes sozinhos no palco, ainda mais encenando um texto maduro e longe de ser infantilizado. Não é comum no Brasil e em nenhum país, na verdade. Mas em Madri, o respeitado grupo La Tristura decidiu encarar a difícil tarefa de escrever sobre a complexa entrada na adolescência no espetáculo “Materia Prima”, que será apresentado entre hoje e domingo, no Teatro Francisco Nunes. A peça é um dos destaques da programação do 12º Festival Internacional de Teatro de Palco & Rua (FIT).

Integrantes do grupo, os espanhóis Itsaso Arana e Celso Giménez conversaram com a reportagem do Hoje em Dia sobre o espetáculo no Francisco Nunes. Explicaram que o La Tristura não é um coletivo de atores, mas sim de dramaturgos e diretores, e que a companhia prefere trabalhar com pessoas não profissionais (como é o caso dos quatro jovens que vieram para o Brasil, com idades entre 12 e 13 anos).

“Materia Prima’ é a reinterpretação de um outro espetáculo nosso, ‘Actos de Juventud’ (2011), em que tratávamos da saída da juventude para a fase adulta. Decidimos passar as mesmas questões para outra fase de mudança, que é o início da adolescência. Pegamos o mesmo texto e fizemos algumas modificações”, explica Itsaso Arana.

A ideia foi encarada como nova na Europa. “Não é comum ver apenas crianças em cena, interpretando um texto de conteúdo maduro”, completa a dramaturga, acrescentando que, antes de o texto ser desenvolvido, houve uma intensa conversa entre os quatro autores e os meninos, para conhecer melhor seu universo.

Adaptação

Quando o espetáculo começou a ser concebido, os garotos tinham aproximadamente 10 anos de idade. Dois anos depois, algumas coisas em suas vidas mudaram e o texto precisou passar por alterações específicas para as seis apresentações no Francisco Nunes. “Há certos desafios que eles tinham naquela idade e que hoje já foram superados. Precisamos agora pensar quais são os questionamentos de quem tem 12 anos”, diz Celso Gimènez.

A apresentação tem todas as características de um espetáculo adulto – tanto em relação ao texto quanto à encenação – mas deve pegar em cheio a meninada que está na plateia. Por sinal, os adolescentes devem ser maioria nas apresentações de quarta e quinta-feira, às 15h.

“É uma obra que oferece diferentes níveis de compreensão, mas certamente quem tem a mesma idade dos atores sente a atuação de uma maneira mais forte.embro de uma vez em que havia um garoto na primeira fila e, em uma cena em que há futebol, ele teve o ímpeto de se levantar e participar”, lembra Itsaso.

‘Escutar pessoas dessa idade não é uma coisa habitual’

O texto da companhia La Tristura não foi escrito especificamente para pré-adolescentes. Na verdade, traz questionamentos da vida adulta – como “o que há de errado com o mundo? Por que a vida não acontece da forma com que gostaríamos?” – encenados por garotos de 12 anos. Mas no fim das contas, também não são questionamentos desses jovens?

“Materia Prima” acaba levantando angústias e anseios de seus quatro autores – além de Itsaso e Celso, escreveram os dramaturgos Pablo Fidalgo e Violeta Gil – somados à vivência dos quatro atores – as meninas Ginebra Ferreira e Candela Recio e os meninos Gonzalo Herrero e Siro Ouro.

A encenação traz elementos autobiográficos, inseridos em movimentações simples, como dança, canto e brincadeiras. Há momentos mais divertidos, outros mais emotivos, e os públicos adulto e adolescente tendem a recebê-los de maneira diferente. “São quatro meninos em cena pensando em suas responsabilidades sobre o mundo, sem ser infantil”, diz Itsaso Arana.

Observação

O elenco foi escolhido em visitas do grupo a colégios madrilenhos. A prioridade foi escolher garotos que tivessem experiência com os palcos, mas aquelas que demonstraram um poder de observação e questionamento sobre o mundo ao redor. O fato de cada uma carregar em si um pouco da infantilidade da idade e outro tanto de maturidade da personalidade foi importante para o desenvolvimento do trabalho – afinal, elas não são apenas intérpretes, mas parte do processo de criação.

“Escutar pessoas dessa idade não é uma coisa habitual”, afirma Celso Gimènez. “Quando acontece uma viagem, ficam preocupados sobre as aulas que os meninos estão perdendo, mas se esquecem de observar de que eles estão participando de um espetáculo interessante, reflexivo, e que estão vivendo a oportunidade de encená-lo em outro país”.

Uma informação importante: “Materia Prima” será um dos cinco espetáculos dessa edição do festival que terá legenda eletrônica.

“Matéria Prima” no Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal). Hoje, às 20h, quarta e quinta, às 15h, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. R$ 20 e R$ 10 (meia) à venda no site www.fitbh.com.br ou no posto da Belotur, no Mercado das Flores (av. Afonso Pena, 1055)
 

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