Mayim Bialik, de The Big Bang Theory, fala sobre a série e sua estreia literária

Thiago Pereira
talberto@hojeemdia.com.br
26/01/2018 às 17:19.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:58
 (Goknation/Divulgação)

(Goknation/Divulgação)

Não é tarefa fácil ser Amy Farah Fowler. Um dos personagens mais queridos da série norte-americana The Big Bang Theory (veiculada no Brasil pela Warner), a pesquisadora especializada em biologia coleciona graduações no currículo. Mas, coisas da vida, enfrenta uma dificuldade que não há pós-doutorado que resolva: lidar com o pernóstico namorado e estrela da trama, Sheldon Cooper, já que romance entre os dois é uma das maiores fontes de diversão (e ansiedade, pelo casório que sai-não sai) para o gigantesco fã-clube do programa.

Já para a atriz que a representa, a trajetória parece mais leve: além de fazer parte de um grupo de imenso sucesso na televisão mundial, Mayim Bialik arranja tempo para seguir suas pesquisas acadêmicas (ela é PhD em Neurociência pela Universidade da Califórnia em Los Angeles, fator que, naturalmente, a qualificou para assumir o posto na série), cuidar da família e agora se lançar como escritora.

“Girling Up” chegou ao Brasil no final de 2017 e se pretende um guia amigo para garotas adolescentes, escrito por alguém que está, via mídia, bem próxima deste público. “O livro surgiu porque eu desejaria ter uma obra como essa quando eu era adolescente”, diz a atriz em entrevista para o Hoje Em Dia. “Ele é todo sobre as mudanças que ocorrem no seu corpo e em sua vida quando se é uma jovem mulher, assim como também é focado em saúde mental e nas decisões saudáveis que podem ter impacto na vida”.

A ideia para escrever a obra veio dos textos que ela postava no site GrokNation.com, um espaço que, desde seu batismo, não deixa dúvidas sobre a natureza nerd da artista.

O termo (grok) diz de uma maneira intuitiva de aprender as coisas e vem do escritor de ficção científica Robert A. Heinlein que o criou como uma parte de um idioma marciano na obra “Um Estranho numa Terra Estranha” – algo que pode perfeitamente definir um adolescente. “O site é um lugar onde eu discuto meu papel em The Big Bang Theory, especificamente sobre representar uma “late bloomer" (expressão que se refere à pessoa de amadurecimento /desenvolvimento tardio) na série, sendo também uma na vida real”, assume a atriz.

O trânsito no espaço virtual chamou a atenção da editora Penguin Books, que a convidou para aprofundar ainda mais certos temas. “Como uma neurocientista, eu tenho muito repertório em biologia e na endocrinologia sobre o que é ser uma mulher”, diz, dando uma justíficadíssima carteirada acadêmica.

Outra forte inspiração de “Girling Up” é o fato de Bialik ter dois filhos homens, (de 9 e 12 anos) em casa. O fato de o livro, desde seu título, possuir uma temática feminina, não exclui a indicação de leitura para os garotos, pelo contrário. “Acredito que meninos e meninas devem conhecer a fisiologia e a psicologias de seus corpos”, defende Bialik.

Quando contextualizo a obra no momento de luta feminista que o mundo vem assistindo, a atriz diz que busca algo mais amplo. “Não se trata de uma declaração feminista. Apenas penso que é algo que faz sentido e contribui para uma sociedade mais esclarecida e educada”.DIVULGAÇÃO

“Como uma neurocientista, eu tenho muito repertório em biologia e na endocrinologia sobre o que é ser uma mulher”, diz

DUAS GAROTAS QUE NÃO SE ENCAIXAM NOS PADRÕES SOCIAIS

Escrever uma obra sobre e para adolescentes pode requerer uma boa dose de autobiografia, até para criar uma vinculação mais forte. Mayim Bialik garante saber onde está pisando. “Muito do livro é baseado na minha experiência pessoal de ser uma garota que nem sempre se encaixa nos padrões sociais estabelecidos”, diz, deixando ainda mais nítidas as proximidades entre o real e o ficcional. “Eu também me recnheço como uma nerd, e uma geek. Eu gosto de ficção científica, histórias em quadrinhos, Dungeons & Dragons e tudo que envolve super heróis. Definitivamente, faço parte do público-alvo da série!”, garante.

Esta condição, de “estranha social”, é dividida com sua Amy Farrah Fowler, que interpreta desde a quarta temporada de The Big Bang Theory – um papel pelo qual já foi indicada ao Emmy de melhor atriz coadjuvante.

Assim como a maioria dos outros personagens da série, a cientista nos conquista por algumas de suas peculiaridades, como sua carência afetiva latente, justificada pela falta de amizades, sua fissura por artistas como Neil Diamond e o fato de tocar harpa nas horas vagas. O fato de Bialik realmente ter aprendido a tocar o instrumento diz mais do que sua dedicação profissional: reflete uma proximidade grande, uma empatia com Fowler.

Se uma das diversões entre os fãs de The Big Bang Theory é se reconhecer nos protagonistas da série, a atriz não tem dúvidas em quem escolheria nesta brincadeira: “Eu sou como Amy, ou até mesmo Sheldon, com certeza. É realmente uma aproximação muito forte, pode acreditar em mim!”. Portanto, a pergunta inevitável: Amy Farah Fowler aprovaria o livro de Mayim Bialik? “Eu acho que a Amy iria gostar muito deste livro! Ele é sim, muito científico, e trata de temas muito sérios. Mas é divertido também!”LC Comunicação/Divulgação

Livro ganhou lançamento nacional no fim do ano passado


IMPORTÂNCIA

]Para a atriz, os temas da série e de “Girling Up” também orbitam de forma aproximada. Novamente, tanto a representação cênica de personagens, quanto conteúdo expresso na obra se encontram em uma causa comum: dar voz à sujeitos que nem sempre são ecoados de forma digna no mundo. “The Big Bang Theory é um programa de entretenimento, mas mostramos personagens com peculiaridades que podem fazer muitas pessoas se afastarem”, acredita ela. “Nós nunca falamos sobre medicamentos ou sobre querer mudar o núcleo de quem são nossos personagens. Somos incomuns, mas temos empregos, relacionamentos e vidas que são bem-sucedidos e interessantes. Mesmo geeks e nerds podem ter isso”, afirma, em uma defesa que também pode vestir o público-alvo de seu primeiro livro, os adolescentes.

THE BIG BANG THEORY: A VINGANÇA DEFINITIVA

Quando surgiu, The Big Bang Theory chamava à atenção por encenar uma comunidade que, durante muito tempo, estava fadada tanto a zoação na “vida real” quanto ao bullying midiático: os geeks, e os nerds. Naturalmente, várias gerações cresceram com estes personagens em filmes, séries e programas de TV. A questão é que, como é comum a várias representações não hegemônicas, tais personagens eram constantemente e comicamente caracterizados na chave da idiotia, da fraqueza social, da inabilidade em lidar com o mundo e as coisas como elas são.

Naturalmente, Sheldon Cooper, Leonard Hoffsteder, Howard e Raj Kuthappali não fogem completamente destes termos. Tanto que, boa parte do efeito humorístico da série se deve ao contraponto que eles fazem, constantemente, com o mundo de verdade – este, representado pela vizinha Penny. Mas o grupo faz destes “elos fracos”, chaves para uma empatia pouco vista (e muito lucrativa) no que diz respeito a séries.Divulgação/CBS

Na atual temporada da série, um dos destaques serão os preparativos do casamento de Sheldon e Amy

O que a série fez foi, mais que dar uma voz própria, heroicizar este sujeito. “Na sociedade da informação, nós somos os grandes líderes”, como disse certa vez Leonard, depois de ter de lidar com um valentão que o ameaçava. De alguma maneira, essa premissa se concretizou: o programa tem uma audiência impressionante nos Estados Unidos, e seus protagonistas já cimentaram diversos bordões no tecido da cultura pop contemporânea. É a revanche definitiva dos nerds, depois de anos sofrendo bullying: seu casting possui contratos que garantem saúde financeira até a geração mais afastada de bisnetos.

Assim, The Big Bang Theory chega, em 2018, há mais de uma década no ar. Seu prazo como produto impecavelmente divertido pode ser vencendo? Talvez sim. São poucas as séries que mantêm a bola da qualidade no ar por tanto tempo. Mas seguramente já cumpriu um papel gigantesco.

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