Melodrama musical, 'Paraíso perdido' é uma das estreias de hoje

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
30/05/2018 às 19:12.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:21
 (VITRINE/DIVULGAÇÃO)

(VITRINE/DIVULGAÇÃO)

 Um mês antes do início das filmagens de “Paraíso Perdido”, uma das estreias de amanhã nos cinemas, a diretora Monique Gardenberg ainda não tinha definido o ator para um dos principais papéis da trama – um patriarca que administra uma casa noturna onde trabalham filhos e netos, geralmente soltando a voz no palco com um repertório de músicas bregas. “Estavam todos me pressionando, como o Zeca Baleiro, diretor musical do filme, que precisava gravar as músicas do personagem. Procurei de Norte a Sul no país, mas ninguém se encaixava na minha cabeça. Precisava de alguém mais velho e com talento musical. Quando comecei a olhar para os cantores, na hora me veio o nome de Erasmo Carlos”, observa. Hoje ela comemora o fato de não ter se deixado levar pela ansiedade. “Tive um cuidado extremado com o elenco. Lutei muito por ele, sacrifiquei-me filmando rápido para ter todos eles ao mesmo tempo”, registra Monique, que contou com nomes como Júlio Andrade, Marjorie Estiano, Seu Jorge, Hermila Guedes, Lee Taylor e a revelação paraense Jaloo, da cena eletrônica, que faz papel de transformista.  EquilíbrioA diretora ressalta que, como “Paraíso Perdido” tem elementos de ação, humor e musical, os atores tinham que saber se equilibrar bem sob esse tripé. “O elenco precisaria atuar de forma intensa, se necessário; leve, quando a cena fosse mais saborosa; e, ao mesmo tempo, saber cantar. Neste registro, qualquer vacilo comprometeria enormemente o filme”, destaca. 

Monique, que não filmava desde 2007, com “Ó Pai, Ó”, prepara mais três filmes: “Caixa Preta”, adaptação do livro de Amós Oz; a sequência de “Ó Pai, Ó”; e “Boca do Inferno”, da obra de Ana Miranda

 Embora a narrativa não aborde questões políticas, concentrando-se no universo de uma família marcada por muita dor e afetividade, é possível ver no filme um discurso de compaixão dirigido ao país. “Escrevi o roteiro como uma forma de dar uma trégua a mim, pois estava muito angustiada com o que vivemos hoje, rodeados por brutalidade e pensamento conservador”, admite. Nas palavras dela, a ideia é dizer um “esqueça a vida lá fora e venha aqui viver um momento de afeto, tolerância e liberdade”, na contramão de uma realidade que ressuscita alguns fantasmas, como a censura às artes, as execuções sumárias e o estado de exceção. “Um amigo disse que o Brasil que ele quer é aquele ali (da boate do filme)”. 

A questão de gênero e identidade é outro tema importante do filme. Para Monique, “estamos aprendendo a lidar com isso e é importante que seja mostrado com naturalidade e carinho”

 Neste sentido, Andrade possui papel chave, mostrando-se sempre de coração aberto, apesar da grande ferida que carrega. “Ele é puro amor, compreensivo, cuidando do outro”, resume Monique. As mulheres também têm função relevante, “no comando de suas vidas, provocando os grandes acontecimentos, enquanto os homens surgem juntando os cacos da família”. InspiraçãoA música brega, representada por Odair José, Reginaldo Rossi e Paulo Sérgio, entre outros, passou a figurar no filme após a decisão de Monique em enfocar pessoas que vivem à margem. “Quando comecei a escrever a história, pensei em vários personagens e situações, entre eles a de um homem vestido de mulher cantando numa boate do centro”, relata. Ela revela que foi impulsionada por uma trilha sonora própria, que ouvia ao pôr as ideias no papel. “Foi a mola propulsora para a história. A partir de canções românticas que mexiam muito comigo, fui concebendo a estética e a temática. Quando liguei para o Zeca (Baleiro), resolvi que seria também uma homenagem à essa música”, registra.

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