Mercado do financiamento coletivo amplia leque em cinco anos de atuação

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
26/10/2015 às 07:47.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:13
 (Arte)

(Arte)

Há cinco anos, um grupo de produtores cariocas se uniu em torno de um projeto de criar uma vaquinha on-line para bancar cachês de bandas estrangeiras que teriam público no Brasil, mas não inspiravam confiança no tradicional mercado de eventos. Nos meses seguintes, conseguiram viabilizar apresentações de Belle & Sebastian, Mayer Hawthorne, Two Door Cinema Club, Vampire Weekend e outros.
O projeto se transformou no Queremos, a primeira plataforma de financiamento coletivo do Brasil – ou crowdfunding, como este negócio é conhecido mundialmente. De lá para cá, surgiram várias outras, cada uma à sua maneira. Para se destacar no mercado, foi importante trabalhar uma “cara própria”.

O que, aliás, aconteceu com o próprio Queremos, focado especificamente em realização de shows. No início, era um site de financiamento coletivo para shows, mas, agora, é uma plataforma que permite uma conexão entre artistas e fãs.

“Hoje, o Queremos é uma plataforma que conecta artistas e fãs, independentemente de crowdfunding. As pessoas sugerem shows no site e, a partir dali, temos dados sobre uma demanda. Quem sugere também pode ganhar uma série de benefícios”, conta Bruno Natal, diretor criativo da plataforma.

Dedução do imposto

Abrir mais uma empresa de financiamento coletivo em um mercado dominado pelas Catarse e Kickante não faria, a princípio, sentido, a não ser que houvesse um diferencial. Caso da Evoé Cultural, que trabalha com projetos aprovados pela Lei Rouanet, permitindo que o apoiador (pessoa física) deduza até 6% do Imposto de Renda.

“Pessoas físicas e jurídicas podem destinar parte do imposto de renda que pagam para um projeto no qual acreditam, é uma garantia da lei que poucos conhecem. As recompensas oferecidas pelos produtores culturais são equivalentes às contrapartidas já oferecidas aos gestores das empresas”, diz Bruna Kassab, co-fundadora da Evoé.

Segundo ela, o interessante é que o apoiador não ganha apenas recompensas, mas mostra que direção tem de ter o imposto pago. “A população só tem a ganhar com iniciativas como essa, já que possui mais facilidade em decidir para qual projeto o seu imposto será destinado, o que já acontece – entretanto, é mais comum vermos empresas utilizando esse benefício”.
 

É em momentos de crise que esse tipo de negócio cresce

Até ano passado, o líder no mercado de crowdfunding no Brasil era o site Catarse, criado em 2011 – e que em quatro anos já arrecadou R$ 35 milhões para seus projetos. Mas uma empresa que está completando apenas dois anos concorre de igual para a igual com ela no topo do ranking.

Colocada no ar em outubro de 2013, a Kickante já realizou mais de 16 mil projetos, sendo cerca de 12 mil somente este ano. O crescimento exponencial provavelmente está relacionado ao forte investimento em marketing: a empresa visitou várias faculdades para explicar aos universitários (e potencialmente futuros empreendedores) e eventos de negócios. A intenção era “educar o mercado”.

“Esperamos, no ano que vem, atingir a meta de 50 mil projetos em um ano”, conta Tahiana D’Egmont, CEO da Kickante, explicando que cada vez mais o leque de projetos colocados ali se amplia. Se no início o foco eram as artes, hoje há uma gama grande de empreendedores, esportistas, pesquisadores e, até, empresas conhecidas no mercado que buscam essa ferramenta para levantar recursos.

“Um exemplo interessante que está no ar agora é da famosa neurocientista Suzana Herculano-Houzel. Ela recebe uma bolsa federal, mas não está tendo o dinheiro repassado pelo Governo e está correndo o risco de ter de fechar o laboratório”, conta Tahiana. Faltam 33 dias e Suzana já arrecadou mais de 70% de sua meta de R$ 100 mil.
 

Oportunidade

A crise econômica é favorável para o mercado do crowdfunding por diversos fatores, segundo Tahiana. Primeiramente, porque os principais usuários das plataformas são artistas, que não estão mais sendo beneficiados por leis de incentivo como anteriormente, e as ONGs, que também não têm tido o mesmo volume de repasses de governos e investidores.

“Os empreendedores, que dependem de empréstimos para investir, e viram a taxa Selic subir, também descobriram os benefícios da plataforma”, diz Tahiana, garantindo que, mesmo com cenário econômico desfavorável, continua a ver um grande número de contribuições.

“O ticket médio de doação é de R$ 95. Mas, ao mesmo tempo, temos empresários que chegam a doar R$ 50 mil para um projeto inovador”, explica.
 

"Vaquinhas" on-line fazem parte de uma cultura do compartilhamento que está crescendo

O crowdfunding é só uma ferramenta dentro de uma cultura de compartilhamento que vem sendo ampliada nos últimos anos. Essa é a constatação de Ana Alyce Ly, sócia-fundadora da Variável 5, empresa que presta serviços de produção e comunicação para o setor cultural e que tem o financiamento coletivo como uma das ferramentas oferecidas para os clientes.

“Várias iniciativas interessantes de colaboração têm crescido nos últimos anos. Como a Tem Açúcar?, um site que permite compartilhar coisas entre vizinhos”, conta Ana Alyce.

Segundo ela, o crowdfunding é bem-sucedido no momento em que a crise influenciou os gastos de muitas pessoas, porque está havendo uma mudança nos hábitos de consumo. “Hoje, já existe um bom número de pessoas que guardam uma reserva por mês para apoiar projetos. Fazer parte de um projeto e ajudá-lo a acontecer é algo muito forte”, entende.

“Mesmo que as pessoas estejam fazendo contribuições menores para os projetos, por causa da crise econômica, por outro lado há um número bem maior de pessoas conhecendo o crowdfunding e aderindo às ideias. A balança fica equilibrada”, explica Ana Alyce.
 

Recompensa

Mas é importante reforçar: embora a maioria dos apoiadores esteja interessada apenas em ajudar, é fundamental ter boas recompensas ao desenvolver um projeto. Muita gente também quer adquirir bons produtos e serviços ao participar.

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