Mercado externo pode ser caminho para cinema local

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
03/01/2016 às 08:21.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:52
 (Frederico Haikal/Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

“Eu que não faço (cinema), já estou aprendendo”, diverte-se Raquel Hallak, ao comentar o caminho das pedras que a Mostra CineBH tem apontado para o cinema mineiro, ajudando a encontrar recursos no exterior para as produções do Estado. Voltada para coproduções internacionais, a Mostra – realizada sempre no mês de outubro – é um dos três festivais coordenados em Minas Gerais pela produtora cultural, entrevistada desta segunda-feira (4) do “Página Dois” do Hoje em Dia.

“Cabe aos profissionais correrem atrás (do financiamento). É preciso conhecer o caminho desse mercado. E é o que estamos mostrando no festival, trazendo curadores de fora para explicar como devem inserir seus projetos”, salienta Raquel.

Mas ela registra que os debates e os seminários promovidos durante a mostra belo-horizontina parecem “estar falando grego” aos ouvidos dos produtores mineiros. A coordenadora enxerga um interesse ainda incipiente no mercado internacional.

“Os realizadores que estão em Tiradentes, apresentando seus filmes, mostram-se mais aptos a participar. O que a gente aborda aqui é o que eles estão pedindo lá”, salienta Raquel, que também está à frente da Mostra de Tiradentes, cuja 19ª edição acontecerá de 22 a 30 deste mês.

Ela acredita que esse quadro logo irá mudar, a partir do momento em que o Estado começar a ter mais presença nos editais nacionais. “Se tem uma área que está tendo dinheiro é a produção, com investimentos em torno de R$ 700 milhões”, assinala.

Raquel explica que os projetos devem atender a determinado perfil para atrair o interesse do exterior, de orçamentos mais modestos. “No ano passado, tivemos uma mineira premiada, a Luana Melgaço, que apresentou o seu projeto nos festivais Ventana Sur e Torino”. Ela cita levantamento do Sebrae, que constatou a presença de mais de 300 produtoras no Estado, mas confessa sua preocupação com a possibilidade de uma linguagem mais televisiva, devido aos editais dirigidos para essa área e à obrigatoriedade de conteúdo nacional na TV paga.

“A balança não pode se desequilibrar, pendendo para o lado oposto de um cinema que reflete a arte genuína de quem o faz. Os cineastas não podem ficar rotulados em função dos editais para a televisão, como os voltados para séries”, pondera.

Preservação
 
Outra preocupação, aí já não mais restrita ao cinema mineiro, é com a preservação, tema da Mostra de Ouro Preto, realizada há dez anos pela produtora de Raquel. “O que falta é o cineasta entender que preservação não é só coisa de historiador”.

Para Raquel, o cineasta precisa entender que faz parte de sua profissão ser responsável pelo futuro de sua obra e também do cinema, ajudando a construir a possibilidade para que as novas gerações possam ter acesso aos seus filmes.

“Não me esqueço do dia em que Cacá Diegues entrou no Cine Vila Rica para a sessão de ‘Xica da Silva’ e parou no meio da sala, afirmando que jamais poderia imaginar que, naquela altura da vida, iria ver o seu filme no formato original, no interior de Minas Gerais, para uma plateia de jovens interessados”, recorda.
 

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