Miguel Paiva lança nesta terça-feira livro autobiográfico, no Palácio das Artes

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
11/02/2020 às 08:27.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:35
 (Reprodução Livro)

(Reprodução Livro)

Radical Chic está “aposentada”. O que não a impede de aparecer, eventualmente, em alguma peça publicitária ou material sob encomenda. Chegou a um ponto em que o autor já “não pensa mais nela”. Não se trata de descaso artístico, é bom que se diga. 

“A condição feminina mudou muito, com a conquista do lugar de fala. Na época que a desenhava, não tinha isso. Então tentava cobrir um pouco essa lacuna ao criar uma personagem mulher. Agora não me sinto autorizado ou capacitado”, registra Miguel Paiva.

Criador de outros personagens emblemáticos, como o do detetive Ed Mort (ao lado de Luís Fernando Veríssimo) e do Gatão de Meia Idade, o autor estará hoje em Belo Horizonte para lançar o livro “Memória do Traço”, que conta a própria trajetória como cartunista e artista gráfico.

Apesar de ter elaborado a publicação para mostrar que a produção que assina foi muito além de Radical Chic, Gatão de Meia Idade e Ed Mort, é impossível deixar de falar da personagem que ganhou espaço em revistas e jornais por ser a primeira a manifestar o pensamento da mulher.

“Foi com ela que estas questões foram postas para fora, o que a fez ganhar a simpatia e a aceitação das mulheres. A gente tinha pouco conhecimento sobre esse universo e o que se via era exatamente o contrário do que queriam”, afirma Paiva, que sempre foi um fã do humor feminino.

Criada em 1982, nas páginas do “Jornal do Brasil”, Radical Chic tem um desfecho semelhante ao de Rê Barbosa, “assassinada” pelo autor Angeli. “Esta era mais hardcore, mais alternativa. A Radical tinha um leque mais amplo sobre a condição feminina”, compara.

Embora Radical não esteja mais na prancheta de Paiva, o cartunista não se esquiva de pensar como ela estaria hoje, dentro do movimento de empoderamento feminino. “Estaria ativíssima na rua, fazendo manifestações em prol da mulher e contra a censura e a segregação de gênero”.

Atualmente, o desenhista, com 70 anos recém-completados, se dedica a fazer tiras para o site Brasil 247, dando continuidade a outra característica de seu trabalho: o lado político. “(com o governo Bolsonaro) Assunto não falta. Tem até demais. O ideal seria se tivesse menos”, diverte-se.

Paiva também foi redator de programas televisivos e assinou várias trilhas sonoras para programas e filmes, ao lado de Zé Rodrix. Um destes trabalhos foi “Oh! Rebuceteio” (1984). “Revi-o recentemente no Canal Brasil. É um ótimo pornô, com conflito e inquietações que a gente não vê mais neste tipo de filme. Tem consistência”.

Serviço
Lançamento do livro “Memória do Traço”, de Miguel Paiva – Hoje, às 19h30, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1537 – Centro). Entrada franca.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por