Mimulus funde em dança memória e atualidade

Vanessa Perroni - Hoje em Dia
06/02/2015 às 08:04.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:56
 (Guto Muniz)

(Guto Muniz)

Na gramática, pretérito imperfeito se refere ao tempo verbal utilizado para descrever fatos passados que não foram concluídos. Mas para a Mimulus Cia de Dança, esse foi o “tempo” exato para permear a última montagem do grupo, novamente em cartaz, nesta sexta-feira (6) e domingo, pela Campanha de Popularização, em duas apresentações.   A coreografia de “Pretérito Imperfeito” faz um resgate da memória da própria Mimulus, pontua Jomar Mesquita, que assina a direção artística do espetáculo. “Estamos falando de memória de uma maneira geral e também da memória da companhia, de cada um dos bailarinos. Contamos um pouco da nossa história”, explica.   A ideia é mostrar que ações do passado do grupo reverberam no que ele faz atualmente. “A companhia trabalha de forma muito mais contemporânea agora do que antigamente, mas continuamos enraizados na dança de salão tradicional”, diz Mesquita, também responsável pela coreografia.   O livro “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, do filósofo francês Andre Comte-Sponville, serviu de inspiração. “A ideia surgiu daí. No livro, a virtude da fidelidade tem a ver com a memória e a lealdade a nossos antepassados e crenças”.   Elementos da mitologia grega também entraram na dança. No processo de pesquisa para a elaboração do espetáculo, o grupo se deparou com um capítulo em que a deusa da memória, “Mnemosine”, foi possuída por Zeus por nove noites seguidas, gerando nove musas – dentre elas, “Terpsícore”, a deusa da dança. “Para nós foi muito significativa essa questão de a dança ser filha da memória”, diz Mesquita.   Lembranças   Mas nem só de filosofia e mitologia é construída a coreografia. O processo de concepção também envolveu depoimentos do corpo de baile, entre antigos e novos bailarinos que auxiliaram a direção a resgatar histórias.   Desta forma, “Pretérito Imperfeito” cita outras obras do grupo, não só na coreografia como no figurino.   Para sustentar essa retomada, que data de 1992 (ano em que a premiada companhia mineira entrou em atividade), a montagem traz uma trilha sonora bem brasileira interpretada por nomes como André Mehmari e Vitor Araújo, que une o erudito e o popular. Exceto pela canção “Risque”, de Ary Barroso, o restante do repertório é todo instrumental.   Em “Pretérito Imperfeito”, a Mimulus explora bastante a própria origem: a dança de salão. Mas traz esse gênero de uma forma mais experimental e diferente daquela com a qual o público está acostumado. “Essa nuance da companhia dificulta a classificação do trabalho. O que mostra como as montagens do grupo são algo novo”, diz Mesquita.   No palco, são oito bailarinos a dar vida à ideia do quanto as memórias e vivências norteiam o presente e o futuro. O trabalho do corpo de baile é bem desenhado, tanto que a cenografia – criada por Ed Andrade, que também assina a iluminação – é enxuta (apenas um biombo, uma parede e alguns objetos).   Tais contribuições de Ed foram cruciais para amarrar a montagem. O espetáculo aguçou um sonho antigo dos diretores: o de publicar um livro com as memórias do grupo.   Pretérito imperfeito   Salão Contemporâneo. Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Dias 6 e 8/2. Sexta, às 21h, e domingo, às 20h. R$ 15 (postos Sinparc).

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